PODERES EM REVISTA 4ª edição | Page 53

ponto de vista José CARLOS GOMES A vida é bela... 2 A ingredientes para o preparo das suas receitas e, acima de tudo, têm muito prazer em transformá-los em algo especial para os sentidos, seu e dos outros. Outros que, como eu, tiram todo seu prazer da degustação, que começa pela boa sensação de uma mesa bem apresentada, talheres e copos adequados, pratos bem finalizados, suficiente tempo para apreciar cada detalhe do enredo. E, importantíssimo, boa(s) companhia(s) – porque, só, melhor um cheeseburger light no Mac e no carro, escutando música. Além do calor humano, há, obviamente, o acompa-nhamento da bebida. É claro que um bom e “velho” vinho é quase unanimidade entre os apreciadores da boa mesa, e, apesar de lhes dar absoluta razão, não podemos menosprezar aqueles que elegem a cervejinha gelada, ou a Coca com gelo, as deusas mais que perfeitas para levar-lhes ao Olimpo. Na verdade, o prazer é subjetivo, sensitivo, mutável e predominantemente profano, eis porque pode ser tão pessoal e constantemente aprimorado. arquivo pessoal lgum tempo atrás, escrevi um artigo chamado “A vida é bela...”, cuja ideia principal vou reproduzir novamente aqui, criando para esse seletíssimo grupo que me lê um probleminha jurídico novo: o plágio de mim mesmo. É que gosto tanto do assunto e de lembranças que ele me traz, que dividi-las com um novo universo não pode ser crime, além do que, já estaria prescrito... O tema era sobre prazeres da vida, e como, à época, eu era dono do Trapiche Adelaide, restaurante de Salvador algumas vezes eleito o melhor da cidade, me acharam credenciado para falar sobre a cozinha chamada “fusion”– modismo temporal – e os grandes chefs, etc... Só que, ao invés de ir por esse caminho, as sensações de prazer que me vinham na cabeça me puxavam para um outro lado. E fui pensando num bife a cavalo com batatas fritas, bife à milanesa com purê de batatas e creme de espinafre, carne assada no molho ferrugem com macarronada, uma rabada com agrião e polenta, uma dobradinha com feijão branco e linguiça e, especialmente, um gostoso cozido ou costeletinhas de porco com farofa, arroz e feijão – que cardápio delicioso! E esse era o “menu” de qualquer família de classe média na época em que saudável era comer de tudo, e foi como passei muito bem toda minha infância e adolescência. Minha mãe fazia maravilhosamente bem esses e muitos outros pratos, e, como amava ser elogiada por seus temperos e 2&