A VIDA ALÉM DO DIREITO i culinária
A
foto é aérea. Em primeiro plano, exuberantes,
o forte de Santo Antonio da Barra e o farol na
entrada da baía. Atrás, o edifício Oceania. A
imagem marca terreno na antessala da ministra Eliana
Calmon, em Brasília.
Uma semana depois, entramos no retrato. Estamos
naquele mesmo prédio, nono andar, residência da
corregedora-nacional de Justiça em Salvador. Na pauta,
o sucesso do Resp – Receitas especiais, em sua nona edição.
Não há castanha de caju tampouco pimenta malagueta. Nada de cozinha baiana, trabalhosa. As 300 receitas
que compõem a publicação são de pratos simples, para
os quais “se utilizam liquidificador e forno micro-ondas”,
como ressalta a autora.
Talvez o segredo do sucesso. Disponível no gabinete
da ministra e na internet, pelo site de compras Mercado
Livre, a publicação é uma das mais vendidas. De acordo
com números da assessoria de Eliana Calmon, a mais
recente edição já ultrapassa os cinco mil exemplares
vendidos, um número considerável para o segmento.
A história começa na infância. Ela lembra – já de
avental e tudo – que, ainda criança, aos oito anos, acompanhava a mãe, Elisabete, em um famoso curso de culinária
na capital baiana, o Kate White. Com um caderninho a
tiracolo, fez as primeiras anotações. Para ficar mais divertido, ilustrava com figuras da revista O Cruzeiro.
“Depois, o caderno sumiu. E só após a morte de
minha mãe eu o encontrei”, conta. Lá estavam a mesma
letra tremida, os mesmos recortes, os primeiros registros.
Anos de pois, o passado iria se unir ao futuro. Eram
tempos de Tribunal Regional Federal da 1ª Região, na
capital federal. Novembro de 1994. A então primeira
mulher a integrar a corte sugere ao amigo e conterrâneo
presidente do Tribunal, Ermenito Dourado, a produção
de algum evento que marcasse a passagem do Dia Internacional da Mulher, em março. “É importante que a
gente festeje isso. Apesar de ser a única desembargadora,
temos muitas servidoras”, relembra o papo com o colega.
Pedido acolhido, convida a então deputada federal
Marta Suplicy para uma palestra. Além de parlamentar,
Marta era estrela de um programa da tevê. “Mas acabou
não dando certo, e acabei convidando outra deputada,
Sandra Starling, que havia participado da CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) da violência contra a mulher”,
diz. “Meus colegas adoraram, porque ficaram sabendo
de muita coisa ali”.
32 I Poderes em Revista