Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia | Page 44

8 iMagazine / April, 2013

A partir dos relatos ao final de processos mais longos de formação e de articulação em fóruns, é possível constatar que esses novos discursos e posturas que os trabalhadores assumem os fortalece para o trabalho e para a vida. Seja revendo as práticas de saúde que coordenam, que passam a gerar neles mais satisfação por serem de fato transformadoras da realidade; seja revendo práticas da vida pessoal que passam a ficar mais conscientes em relação ao próprio consumo de substâncias e aos procedimentos de cuidado de si mesmos.

Conclusão

Este texto teve por finalidade compartilhar elementos práticos e reflexões sobre processos de ensino-aprendizagem realizados com trabalhadores que atendem a consumidores de drogas a partir de experiências realizadas no estado de São Paulo. Na troca intensa com tantos trabalhadores, estudantes, gestores e usuários dos serviços, tem sido possível desenvolver formas de produzir encontros cada vez mais potentes e fortalecedores, e também entender melhor sobre as formas como o trabalho nesse campo tem se dado atualmente. Os resultados alcançados manifestam reais possibilidades de fazer RD em diversos âmbitos e serviços da rede a partir dos trabalhadores.

É imprescindível que as proposições de formação partam da realidade e do conhecimento da prática que os trabalhadores já têm e contemplem as reais necessidades de seus processos de trabalho. Que se possam discutir os elementos de fortalecimento e de desgaste desses processos, pois somente a partir disso os trabalhadores poderão se apropriar das finalidades de suas práticas e realizar, de fato, a transformação dos determinantes do sofrimento das pessoas que consomem álcool e outras drogas de forma prejudicial.

Para isso, deveremos nos comprometer com uma transformação das estruturas adoecedoras, a partir de práticas complexas, apropriados das suas dimensões política, organizacional e técnica. Assim, os processos formativos devem ser permanentes, devem partir da prática e ter foco na sistematização e produção de conhecimento com impacto no trabalho.

Notas

1 - Uso aqui o termo "formação" para designar processos de ensino-aprendizagem em que todas as pessoas envolvidas se transformam e em que a finalidade é que se produzam conhecimentos sobre os temas do encontro a partir da reflexão crítica sobre a realidade concreta.

2 - ONG da cidade de São Paulo que realiza práticas de atenção, formação e articulação política sobre Redução de Danos.

3 - As participantes do curso eram majoritariamente mulheres – tivemos cinco homens entre aproximadamente 150 pessoas.

4 - Nenhum conceito sério de epidemia é aplicável à manifestação epidemiológica do consumo de crack no Brasil.

5 - Sobre a divisão do trabalho em saúde, ver: http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divtectrasau.html

6 - Os registros são feitos também pelos facilitadores do encontros, mas principalmente pelos participantes.

7 - Alguns conteúdos disponíveis em: www.cursoemsdrogas.wordpress.com e em https://pt.wikiversity.org/wiki/Como_preparar_uma_aula

8 - A lei 10216/01 é uma conquista da luta antimanicomial e estabelece as bases legais para o combate à lógica manicomial de internação como principal resposta de saúde às pessoas com sofrimento mental, e propõe uma complexa rede substitutiva de base comunitária.

PATHOS / V. 01, n.01, 2015 43