Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia | Page 31

iMagazine / April, 2013 9

social, carregado de valor pejorativo, percebidos na maneira como alguns funcionários do abrigo e da escola os concebiam, e dos próprios adolescentes, muitas vezes inferiorizando a si mesmos.

Desta forma, quando essas ações foram tomadas e implementadas, os problemas pedagógicos passaram a ser a tônica principal de nossos encontros, tornaram-se pauta nos diálogos para pensarmos em estratégias para apoiar o adolescente dentro da sala de aula, com atividades factíveis, dentro de suas reais possibilidades e limitações, buscando melhorar o déficit de aprendizagem diagnosticado, para que a partir de sua melhoria, pudessem avançar no aprendizado. Tomei medidas internas no abrigo para apoiar a escola na aprendizagem deles, desenvolvendo atividades relacionadas à base escolar que estava defasada, como por exemplo, investir na alfabetização e ou melhoria desta, pois tínhamos adolescentes analfabetos, e tantos outros muito mal alfabetizados, além de trabalhar determinados conteúdos escolares, em apoio ao que a escola estava trabalhando.

Assim sendo, com o conjunto de todas essas ações, os resultados em suas aprendizagens foram melhorando, especialmente por mostrarem-se mais comprometidos, envolvidos e interessados dentro da sala de aula, e pela escola. As queixas de indisciplina foram diminuindo, comportamentos mais exacerbados começaram a ser melhores resolvidos, a partir dos diálogos da escola e do abrigo com o aluno. Buscas de soluções dentro da escola foram criadas para resolução de conflitos, tornando o adolescente partícipe do processo, para tomada de decisões.

Quanto às medidas tomadas visando a socialização e integração deles com os demais alunos da escola, bem como com a comunidade local, o primeiro passo foi a de solicitar autorização para que eu comparecesse na reunião escolar, de pais e mestres. Nesta reunião apresentei aos pais o abrigo e falei sobre o acolhimento institucional, desmistificando-o e ampliando suas visões sobre a importância desta instituição numa sociedade tão injusta e desigual como a nossa, e os reveses da vida, que podem levar qualquer criança ou adolescente a ser acolhido, até mesmo os filhos deles, no caso de orfandade, por exemplo, caso ninguém da família os assumam.

Num segundo momento convidei a escola, em nome do abrigo a nos visitar. Dessa maneira ela pôde conhecer a casa de seus alunos e o nosso trabalho, foi um encontro, um intercâmbio. Realizaram o HTPC dentro do abrigo. Esse HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo), é uma prática escolar, onde os professores se reúnem com seus coordenadores pedagógicos para trocar experiências, trabalhar teoria e prática, buscar soluções para o cotidiano escolar. Depois desse encontro, professores adentrando os muros do abrigo tornou-se evento que não causava mais espanto, era normal para alguns deles "dar uma passadinha". Nas primeiras passadinhas, os adolescentes pareciam que estavam vendo alienígenas, algo inconcebível até então.

PATHOS / V. 01, n.01, 2015 30