Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia | Page 11

iMagazine / April, 2013 9

sequelas para aqueles que foram vítimas de abuso sexual, todavia, e mostram-se com dificuldade em entender ou atender as necessidades apresentadas pelos mesmos.

Diante do exposto, se nosso objetivo como serviço de proteção a crianças e adolescentes é interromper o ciclo e a escalada da violência há necessidade de conhecermos esse processo construído histórica e socialmente. É relevante, como nos ensina Vecina (2004, p. 54):

No caso de violência intrafamiliar, vemos que trata de situações em que ambos os papéis complementares se desenvolvem de modo prejudicado, tanto o papel de pais responsáveis quanto o de filho. Estruturam-se relações familiares disfuncionais, inundadas por conservas culturais. São relações invasivas ou sem limite claros, em que climas violentos são compartilhados através da co-participação de cada um dos membros da família na construção da cena violenta. Constitui-se em um drama que deve ser visto não somente do ponto de vista individual da vítima ou somente do ponto de vista dos autores da violência, mas sim do ponto de vista da constituição de dinâmicas familiares de inter–relações.

Em conclusão, quando da quebra do sigilo e a revelação do abuso impõe-se o atendimento daqueles que foram vítimas e os membros da família envolvidos no evento traumático, “há necessidade de conhecer o ciclo da violência, os personagens que vivenciam o drama (os perfis da vítima de violência sexual e dos autores ativos e/ou passivos da violência), as dinâmicas presentes nas relações e suas consequência, para, num segundo momento, postularmos caminhos de intervenções que abarquem, de modo integral, todas as facetas desse fenômeno.” (VECINA, 2004. p. 49). Outro desafio que se tem apresentado é a necessidade de trabalhos de prevenção, esclarecendo a população em geral e, principalmente, a população chamada de risco a evitar a produção da violência contra criança ou adolescente, e os cuidados dos adultos considerados de confiança pelos mesmos para que possam ouvir e protegê-los após a revelação.

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