Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 9º Volume | Page 60

Além de uma “escuta” que constantemente é aperfeiçoada e atualizada, outros recursos são utilizados: de rotina, é preciso criar estratégias para estabelecer comunicação, necessitando de recursos pedagógicos, lúdicos, linguagem escrita e/ou falada, ou seja, as técnicas precisam ser adaptadas a cada sujeito que é encaminhado.

DISCUSSÃO

A proposta de atendimento para esta população visa oferecer espaço que possibilite a retirada do sujeito da institucionalização, a retomada e apropriação de sua história e que facilite o apossar-se de si e dos seus direitos, com possibilidade de decisões e escolha (Morato, et al, 2005).

Quando o jovem se apresenta no atendimento, na sua maioria, comparecem para atender a demanda da instituição e da sociedade que clama por justiça quando atos de violência são direcionados a ela. É neste momento inicial que a escuta clínica poderá provocar um desbastamento nas várias outras demandas que circunscreve a vida do jovem e para isso o profissional precisa abster-se de valores pessoais, sociais e institucionais para que o sujeito possa surgir e então poder ajudá-lo no desenvolvimento da sua identidade concomitante a construção dos seus projetos de vida.

Na instituição que mantém um funcionamento paradoxal, em função da herança histórica que originou sua implantação e dos desafios para estabelecer nova modalidade de atendimento a esta população, as relações são igualmente contraditórias. Nesse contexto de escuta clínica é exigido distinguir os elementos que se entrelaçam nesta dinâmica e, desta forma, proporcionam um processo de separação entre o que é do sujeito e o que está fora dele. O adolescente, após o encaminhamento, é convidado a criar um espaço para que possa falar de si, processo que vai ocorrendo gradativamente com a aquisição de vínculo de confiança. Independentemente do que fizeram ou do que gostariam de fazer, este espaço vai sendo construído com persistência e respeito. Assim, paulatinamente traços da sua história de vida, incluindo as relações familiares, sociais e dados da própria internação e suas significações vão ocupando e transformando a relação entre profissional e “jovem interno”.

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PATHOS / V. 09, n.02, 2019 59