Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 9º Volume | Page 57

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PATHOS / V. 09, n.02, 2019 56

Para a autora deste artigo o conceito “escuta clínica” compreende um momento onde a demanda do sujeito é acolhida; momento em que um desejo ou sofrimento torna-se manifesto. Este processo implica uma relação intersubjetiva: neste contexto de experiência o analista ou psicólogo situa-se como escuta do outro, acrescentando-lhe sua própria condição existencial; imbuído de seus valores e intelectualidade, sem dissociar-se de suas angústias e sofrimentos, ou seja, utiliza da sua humanidade na escuta do outro.

Eis que sua execução impõem sutilezas e complexidades recorrentes, ora advindas da bagagem e experimentações do seu executor, ora, do ambiente de execução. Esta forma de olhar a escuta clínica, leva-nos a reconhecer que as práticas clínicas vistas sob óticas diversas e de acordo com o campo epistemológico que as fundamentam resultam em uma diversidade de ações para sua execução.

Segundo Mannoni:

o psicanalista não dá razão nem a retira; sem emitir juízo, escuta”, entretanto “uma escuta no sentido pleno do termo, faz com que o discurso das pessoas se modifique, adquira um sentido novo aos seus ouvidos (Francoise Dolto, 1980, p.10).

Não caberia ao analista influenciar, moralizar, aconselhar ou emitir qualquer espécie de sugestão. Na mesma linha de raciocínio McDougal (1991 apud Mannoni, 1991, p.11) diz: “que é o paciente (sua criatividade) quem faz o trabalho, e que as intervenções do analista correm o risco de impedi-lo”. Mais adiante prossegue: “...o analista é talvez um guia – mas é o analisando sozinho quem deve terminar sabendo onde ele quer ir...”, “...trata-se somente de ajudá-lo a fazê-lo e não de fazê-lo em seu lugar”.

...recusamo-nos a transformar um paciente, que se coloca em nossas mãos em busca de auxílio, em nossa propriedade privada, a decidir por ele o seu destino, a impor-lhes os nossos próprios ideais...a formá-lo a nossa própria imagem e verificar que é bom nisso. (Freud, 1924,p.178)