Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 52

Deve-se destacar que apesar de a criança já ter visto o brinquedo em questão e, por certo, já ter brincado com o mesmo inúmeras vezes coloca em ação o frisado pelo autor de que viver criativamente é ver tudo como se fosse a primeira vez (Winnicott, 1996), pois visivelmente pode ser constatado o engajamento da criança na brincadeira como se fosse o primeiro contato com o objeto-brinquedo. Ela evidenciou o interesse por esse objeto e, assim, iniciou sua ação de brincar. Tal ação evidencia algumas motivações já apontadas por Winnicott (1996), a busca pelo prazer e por realizar a integração de sua personalidade. Tais motivações propiciam que a criatividade se faça presente na vida do sujeito e que este busque uma razão de ser e de estar sendo. Como a criatividade é uma característica adstrita à experiência infantil, o autor ressaltou que é importante mantê-la através da vida. Destarte, “a criatividade é o fazer que, gerado a partir do ser, indica que aquele que é está vivo” (Ibidi, p.31). É por isso que o autor alertou que seria somente no brincar que o indivíduo em qualquer fase de seu desenvolvimento teria a possibilidade de ser criativo, de utilizar sua personalidade de forma integral e de descobrir o seu eu. O autor destacou a fundamental relevância do brincar para o sujeito, pois como esta ação é saúde, “contribui para o estabelecimento do elo entre a realidade interna e externa do sujeito, fornecendo a organização para o início das relações emocionais e sociais, propiciando a manutenção de sua integridade” (Winnicott, 1982, p. 163).

Considerações Finais

A partir do que fora observado constatou-se que a criança está no período de desenvolvimento pré-operatório do qual o jogo simbólico é característico, pois se verificou que além da construção do símbolo lúdico a criança apresentou tanto a representação de um objeto ausente (comparação entre um elemento dado e um elemento imaginado) como a representação fictícia (assimilação deformante). Elementos da imitação puderam ser observados no jogo simbólico estabelecido pela criança e a imitação, neste momento, agregou-se ao jogo, pois ao realizar o “gesto significante” a criança virtualmente evocou uma situação não presente sugerindo que o brinquedo fora também utilizado como um objeto transicional. Tais considerações ratificam a importância do exercício simbólico para a constituição e desenvolvimento do indivíduo e endossam que para lograr a integridade do eu no sujeito, a brincadeira teria que se fazer presente, pois somente nesta ação a criança, jovem ou adulto poderia exercer sua criatividade e se constituir enquanto ser.

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 51

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