Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 50

Em outras palavras, sua ação não se configurou apenas como reações circulares primárias das quais evidenciam como característica a expectativa do resultado das ações efetivadas, adstritas às adaptações puramente reflexas. A criança apresentou, portanto, a reação circular secundária da qual não há uma assimilação intelectual do objeto com vistas à adaptação, mas uma assimilação pura e funcional ligada ao prazer, “exibição jubilosa de gestos conhecidos” (Ibidi, 107).

Ressalta-se que a criança evidenciou mais que um esquema do símbolo lúdico, característico da sexta fase do período sensório motor e, portanto, do jogo de exercício. Pois, apesar de realizar com o objeto (mini-lousa) uma ação motora, pois a criança com uma de suas mãos gira a lousa no chão, sugerindo que o mero exercício seja o que caracteriza o jogo em curso evidenciou, conforme as classificações dos jogos apresentadas por Piaget (2010), o jogo simbólico. O mesmo autor (2010) nos alerta para o fato de que, quando a criança passa de uma fase de desenvolvimento para outra não abandona a fase anterior e, sim, a incorpora. Desta forma, o jogo simbólico também tem, para o autor, evidencias do jogo de exercício, contudo o que se sobrepõe, o que torna mais característico neste período e fase de desenvolvimento é o jogo de “fazer de conta”, pois o jogo simbólico “é simultaneamente sensório-motor e simbólico, mas chamamos simbólico em que ao simbolismo se integram os demais elementos, além disso, as suas funções afastam-se cada vez mais do simples exercício” (Ibidi, p.127).

A criança em análise está nessa fase de desenvolvimento do qual o jogo simbólico é característico, não em virtude da idade cronológica que apresenta, mas pela qualidade da ação desvelada. Neste sentido, faz-se mister destacar que a criança demonstrou as características da fase de desenvolvimento e do jogo conforme a classificação desse teórico, ratificando a universalidade dos estágios do desenvolvimento descritos pelo autor e corroborando com o argumento de que há um padrão universal para desenvolver-se, do qual o indivíduo, nos padrões de saúde e desenvolvimento típico, necessariamente terá que passar e seguir. Nesta perspectiva, o esquema de colocar uma de suas mãos na lousa disposta no chão e com esta fazer um movimento giratório impulsionando à mini-lousa a girar no chão por alguns segundos desvela o jogo simbólico, pois houve segundo Piaget (2010), tanto a representação de um objeto ausente como a representação fictícia, à medida que se evidenciou, respectivamente, uma comparação entre um elemento dado e um elemento imaginado e uma assimilação deformante.

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 49

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