Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 49

" (...) as escolhas do brincar não têm

nada ver com o acaso, pois a criança ao brincar recorre àquilo que

conhece de melhor."

Por meio da observação constatou-se que REB1 é uma criança ativa e que gosta de brincar. Tal dado de realidade faz-nos rememorar o que Winnicott sublinhou: “se a criança pode brincar, esse é um sinal favorável. Se há gosto e perseverança no esforço construtivo, sem necessidade exagerada de supervisão e estímulo, existe esperança maior de realização de trabalho útil” (Winnicott, 2005 p72). Por isto que para esse autor brincar se estabelece como sinal de saúde, pois “é com base no brincar, que se constrói a totalidade da existência experiencial do homem” (Winnicott, 1975, p.93). Quando o menino, dentre as várias possibilidades de brinquedo dispostos visivelmente no quarto escolhe um objeto intitulado “maleta escolar” isto a princípio sugere ser uma escolha aleatória. No entanto faz-se mister destacar o escrito por Han (1981) citado por Moyles (2002) do qual afirmou que as escolhas do brincar não têm nada ver com o acaso, pois a criança ao brincar recorre àquilo que conhece de melhor. E isto já fora, em outros termos, pontuado por Piaget (2010) do qual sublinhou que “[...] a atividade e o pensamento adaptados constituem um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, o jogo começa desde que a primeira leva vantagem sobre a segunda” (p.169). Dito de outra forma, a criança só estaria no contexto de jogo, de ludicidade, se estivesse no âmbito da assimilação pura, do simples prazer funcional.

Verificou-se, por meio da manipulação e ação da criança com o brinquedo, que a mesma fez aplicação de um objeto inadequado (mini-lousa) para realização de uma ação, de um esquema que é característico de objetos circulares, redondos que giram e rolam ou que estejam fixados em um eixo. Isto é, "faz uso de um objeto que não é habitualmente aplicado para tal ação e evoca-o para auferir prazer” (Piaget, 2010, p.118). Desta maneira, “o objeto atual é assimilado a um esquema sem relação objetiva com ele” (Ibidi). A partir de tais relatos percebe-se que, para o sujeito em análise, há construção de forma integral do símbolo lúdico.