Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 41

INTRODUÇÃO

Contemporaneamente quando pensamos na criança vinculamos quase de imediato ao pensamento o conceito de ludicidade, do brinquedo e do brincar, concebendo esses constructos como estritamente imbricados, principalmente no âmbito educacional. Contudo nem sempre essa relação, tão evidente nos dias de hoje, se fez presente de forma significativa na sociedade e nos espaços da educação formal. Segundo os escritos de Ariés (1981), a brincadeira não tinha o valor existencial e qualitativo que se lhe é atribuído neste último século e, ademais disto, o significado inicial vinculado a esta ação que já não era favorável em sua completude e extensão, pois na antiguidade, a brincadeira era vinculada pela igreja católica, muitas vezes, às ações carnais, ao vício e ao azar, fora sendo ainda modificada negativamente e, destarte, a relação entre as crianças e o próprio brincar não era tomada como prioridade, procrastinado os avanços no campo relacionado à criança e o desenvolvimento.

No Renascimento houve uma tentativa de ressignificar as brincadeiras ao considerarem-nas como uma forma de preservar a moralidade. Porém, ainda havia uma distinção entre brincadeiras e jogos considerados “bons” e “maus” e em virtude disto, a proibição (Wajskop, 1995). A partir da década de setenta do século XX é que a criança passa ser percebida como um ser com suas características e necessidades particulares (Carvalho e Beraldo, 1989) e, assim, a relação entre as crianças e a brincadeira passa a ser considerada como um fator adstrito da fase de desenvolvimento e aspecto fundamental para aprendizagens. É deste contexto de ressignificação conceitual da criança e de tudo o que disto decorre que as teorias Psicológicas do desenvolvimento tais como as de Piaget e de Winnicott contribuíram qualitativamente para a concepção de nova criança e de um novo brincar.

Winnicott (1975) afirmou de maneira bastante categórica que a brincadeira é extremamente excitante. Isto, segundo o autor, não seria em função dos instintos envolvidos nessa ação, mas em virtude da própria ação do brincar se constituir em si mesma num interjogo entre a realidade psíquica pessoal e a experiência de controlar os objetos reais. Outro aspecto relevante que o autor trás a discussão é que “somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)” (Winnicott, 1975, p.8), pois para ele “[...] criatividade é o fazer que, gerado a partir do ser, indica que aquele que é está vivo” (Winnicott, 1996 p.31).

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 40

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