As autoras chamam a atenção para o descuido às questões da saúde dos internos, que apresentavam diversas demandas como dermatoses, ausência de controle para a tuberculose, DST/AIDS, deficiências, questões relacionadas a drogadição, além de um caso de um adolescente que havia sido baleado e estava numa “cela superlotada”, enquanto o setor de saúde se ocupava na rotina de um processo de vermifugação em massa.
Além deste, as mesmas autoras prosseguem tratando do tema da atenção à saúde do adolescente em cumprimento da medida socioeducativa de internação, ressaltando os marcos legais que determinam a garantia deste cuidado, apenas no plano teórico em grande parte dos casos, e ressaltam o caráter deste cuidado que, além de legal, é uma proeminência ética. Citam também outros levantamentos que demonstram as contrariedades na atenção à saúde do adolescente:
Outro estudo indispensável 2 [...] constatou-se que a gama de problemas existentes nestas unidades é ampla, variando da insuficiência de profissionais de saúde até a medicalização em massa dos adolescentes ali internados. Essa medicação funciona, não raramente, como espécie de algema medicamentosa como forma de anestesiar o adolescente e [que] funciona como tampão para as questões que as unidades têm que enfrentar. (Boas, Cunha e Carvalho, 2010, p. 227).
Destacaremos, neste último trecho, que demonstra aspectos já discutidos brevemente nas falas anteriores, como a banalização do acesso ao tratamento medicamentoso e a utilização institucional do medicamento como a referida contenção química, mas que nos parece apresentar mais um elemento importante a ser discutido, que é o sentido que as atividades pedagógicas oferecidas durante o cumprimento da internação podem fazer a esses adolescentes, vejamos:
[...] Quando eu não queria estudar, ficava o dia inteiro dormindo... até os meninos falava: Mano, o dia que acontecer uma rebelião aqui cê vai tá dormindo.
A fala em destaque pode nos permitir a reflexão de uma questão que, possivelmente possa ser identificada, também, fora dos muros da internação. Na ausência da possibilidade de “cabular” a aula, a ausência pode se dar pelo adormecimento induzido pelo uso do medicamento.
PATHOS / V. 07, n.04, 2018 32
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