Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 25

INTRODUÇÃO

Se a psicologia apenas descrever o que é observado ou enfocar o indivíduo como causa e efeito de sua individualidade, ela terá uma ação conservadora, estatizante – ideológica – quaisquer que sejam as práticas decorrentes. Se o homem não for visto como produto e produtor, não só de sua história pessoal, mas da história de sua sociedade, a psicologia estará apenas reproduzindo as condições necessárias para impedir a emergência de contradições e a transformação social. (Lane, 1984, p.15)

A escolha por iniciar com a citação acima de Silvia Lane apresenta a intenção de refletir a partir de um específico ponto de partida: a nossa história... a história da psicologia e dos propósitos aos quais serviu, com o intuito de conjeturar sobre uma possível repetição na prática para a qual o tema do presente artigo nos remete.

A bem da verdade, possivelmente, algumas histórias poderiam nos servir para pensarmos o tema em questão: a história da psicologia, a história da infância e da adolescência, a história da institucionalização de crianças e de adolescentes, sobre a necessidade de controle social da pobreza, a história da medicina e dos serviços que prestou à sociedade em seu início, entre outras.

Cruz, Hillesheim e Guareshi (2005), atentam-se para algumas partes destas histórias nos apontando para a construção discursiva que se deu durante as transformações sociais e das políticas públicas voltadas à infância no Brasil, resgatando, sobretudo, como o entendimento da psicologia se dava e “contribuía” para a manutenção de um ideal de indivíduo, de família e de práticas classificatórias.

[...] a psicologia apresentava-se como um dos instrumentos capazes de determinar as causas do desvio do menor. Assim, a “investigação dos interesses e do senso ético de crianças e jovens seria feito mediante testes, objetivando não só classificar, mas resgatar o desviante, enquadrando-o à normatividade dos registros da mão-de-obra infanto-juvenil” [...] os saberes científicos, especificamente o pensamento psicológico, legitimou atitudes de exclusão e desqualificação de crianças e jovens pobres e delinquentes, uma vez que fez (ou ainda faz) recair a terapêutica sobre o indivíduo desviante, esvaziando discussões quanto aos aspectos sociais que compõe o desvio. (Cruzcruz, Hillesheim e Guareshi, 2005, p. 44)

PATHOS / V. 07, n.04, 2018 24

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