Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 7º Volume | Page 13

Assim, apesar dos psicoterapeutas atuarem de forma interdisciplinar, com contatos frequentes junto aos demais profissionais de saúde e da equipe de referência dos adolescentes nos centros socioeducativos, a atenção ao discurso biologizante que atravessa sua prática, sobretudo pelo espaço que ocupa na instituição como profissional da saúde, deve ser sempre reforçada para fazer com que suas intervenções se atenham à promoção da autonomia e não da submissão.

A captura da psicoterapia pelo Poder Judiciário e centros socioeducativos

Os interessantes efeitos da psicoterapia junto a adolescentes infratores há anos têm repercutido no Poder Judiciário que, por sua vez, aumentou as solicitações de atendimentos para os jovens. Estas demandas, porém, surgem às vezes como determinações pouco atentas à capacidade de atendimentos do serviço e aos critérios de encaminhamento da psicoterapia.

Em outras circunstâncias, é solicitada aos psicoterapeutas a elaboração de documentos que descrevam o andamento dos casos, atribuindo à psicoterapia um aspecto pericial. Os profissionais tem se esforçado para estabelecer um enquadramento de sua prática na instituição, a fim de que a ação preserve sua qualidade fundamental, o sigilo.

Em ambos os movimentos, percebe-se a tentativa de captura da prática psicoterapêutica na medida socioeducativa pela lógica e discurso judiciários que atravessam vigorosamente a realidade institucional. A atenção por parte dos psicoterapeutas à sua prática de saúde mental é desafiada pelo campo jurídico que intenta se apropriar dos espaços de subjetividade para melhor definir prognósticos de possíveis ações delitivas.