Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 6º Volume | Page 55

"Estes sintomas falam por Clarice, tentam de maneira patológica exaurir um desejo que grita em seu mais profundo inconsciente e que luta para sair por vias somáticas, que lhe causam angústia e mal estar psíquico "

Desta forma, é possível pensar que algo está sendo reprimido, como já dito por Freud (1910 [1909]/ 2013), pois os desejos que não são aceitos por ela, seriam incompatíveis com suas aspirações morais.

Além disso, quer trabalhar com o que realmente gosta, mas não sabe o motivo que a prende a não começar com isto, ou seja, é a permanência do desejo insatisfeito, e o elogio dos patrões, e de certa forma o desejo deles pelos serviços dela, podem ser a realização de um outro desejo, o desejo do outro.

No corpo converte: Clarice simulava alguns sintomas que via na televisão, como quando foi parar em um hospital por ter sofrido um suposto infarto, e outros sintomas eram trazidos: “sentia fortes dores de cabeça e zumbidos que saiam dos meus ouvidos como se fosse minha própria voz, junto com uma sensação de gota gelada que escorria da cabeça e se espalhava pelo corpo” [sic]. E em mais uma situação informa carregar uma garrafa d’água na bolsa e diz numa das sessões: “eu costumo tossir quando fico nervosa, não é o caso de hoje, mas sempre trago a minha garrafinha” [sic]. Clarice chega a ter uma crise de tosse no final desta mesma sessão.

Aqui é possível levantar algumas suposições de que o infarto seria algo que novamente estaria ligado a algo que deveria morrer, no caso, o desejo inconsciente de Clarice. Porém, parece que para ela, estar em perigo, evoca outras recompensas, pois é ao filho que chama em outras situações de crise: “quando eu tinha essas crises, ele vinha e eu colocava a minha cabeça no colo dele até dormir e até dormia na cama dele... Você acha que eu iria gritar por meu filho no meio da noite se eu não tivesse mesmo sentindo que estava morrendo?” [sic]

PATHOS / V. 06, n.04, 2018 54

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