Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 6º Volume | Page 38

Lembremo-nos de que o diagnóstico em Psicanálise se baseia no lugar que o paciente coloca seu terapeuta, o que permite que realizemos o diagnóstico de psicose mesmo fora de uma crise (Calligaris, 1989).

Pensando novamente no significante, Calligaris (1989) atesta que o sujeito psicótico, por não ser castrado2 , não tem um significante primário a partir do qual e à qual todas as suas representações convergem. O psicanalista faz uma analogia dessa estrutura, com um imã ligado à um pedaço de metal, com uma folha de papel no meio, ou seja, não é fixo.

Em outras palavras, a separação da mãe, o corte, é dado no Real, não no Simbólico, não pela palavra (Klinger, Reis & Souza, 2011). Quando esse corte não se dá no nível simbólico, no nível das representações, o assujeitar-se, tornar-se sujeito, fica comprometido (Jerusalinsky, 2008).

Outros pontos que indicam para uma estrutura psicótica são: Lucas não cumprimenta, nem olha nos olhos quando começa uma sessão, isto é, não faz o laço social. Não brinca com outras crianças na recepção da clínica, em disparidade com a fala da mãe, que afirma ver constantemente seu filho brincar com outras crianças quando vai ao parque.

No caso de Lucas nota-se que a mãe busca mantê-lo na condição de objeto, não o permitindo emergir como sujeito de seu desejo. Quando a mãe diz que ele é seu “companheiro”, o faz no Real, não permitindo a ausência, ou a falta. Estando sempre presente a mãe não coopera com a operação de metáfora, com a metaforização do Nome-do-Pai, justamente a questão do psicótico (Calligaris, 1989).

Em suma, o papel do analista em casos dessa natureza é fazer o que a mãe não fez, supor um sujeito (Kupfer, 1999). Podemos observar no caso, quando a mãe não permite que o filho faça as atividades por si só, como sempre quer fazer por ele, dizendo que ele “não consegue sozinho” (sic).

Seja como for, o corpo de um bebê jamais sairá de sua condição de organismo biológico se não houver para ele um outro que sustente o lugar de Outro Primordial e que o pilote em direção do mundo humano, que lhe dirija os atos para além dos reflexos, e, principalmente, que lhes dê sentido (Kupfer, 1999, p. 99).

Isto é, a função materna, encarnada na análise na figura do analista, gira em torno de tirar a criança do Real e trazê-la ao Simbólico (Klinger, Reis & Souza, 2011).

PATHOS / V. 06, n.04, 2018 37

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