Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 6º Volume | Page 36

Ao ingressar na escola, Lucas regrediu em questões de fala, trocando letras e pronunciando palavras de forma incorreta (o que não fazia).

Investigando as relações familiares do paciente, descobre-se um casal que está junto há bastante tempo. O pai exerce a profissão de auxiliar de almoxarifado em uma escola e a mãe era doméstica, dedicando-se quase que inteiramente ao filho e ao cuidado de seu pai, acometido pelo AVC. Os pais se conheceram quando o pai trabalhava como caseiro em uma chácara, e a família da mãe fez uma visita aos donos da propriedade.

Costumeiramente a família passa o final de semana na casa dos avós maternos de Lucas, em parte por conta do cuidado que deveria ser conduzido junto ao avô. O paciente tem contato frequente com esses familiares.

A mãe atuou por longo tempo em uma loja, período este que lembra com alegria, e saiu quando engravidou de Lucas, para dedicar-se exclusivamente ao cuidado do filho. Possui duas irmãs, que segundo Fabiana, ausentaram-se do cuidado com o pai.

Do lado paterno, podemos observar algumas questões. Este é emigrante do Nordeste do país, vindo buscar uma vida melhor, com mais oportunidades de trabalho. Segundo Gabriel, sua família por parte de pai possui um histórico de alcoolismo, sendo seu próprio genitor um dependente. Em sua família por parte de mãe, há um histórico de Esquizofrenia, onde, supostamente algumas mulheres foram diagnosticadas com o transtorno.

No primeiro semestre busquei entender que lugar Lucas ocupa na fantasia dos pais, e em nome de quê ele veio. Frequentemente Fabiana falava nas sessões que seu filho estava doente, e ao investigar mais a fundo, nota-se que Lucas tem “ganhos secundários” com a doença, como não ir à escola, e dormir na cama dos pais, o que ocorria com certa frequência. Uma fala importante proferida pela mãe em uma das sessões foi, “ele é meu companheiro”(sic).

Um comportamento de Lucas que chamou atenção foi o de morder com força durante o sono1 . Foi recomendado à mãe que levasse o filho ao pediatra, para tratar essa questão. Lucas fora amamentado no peito por sua mãe até os três anos de idade. De acordo com esta última, o processo de desmame foi “tranqüilo” (sic).

Na mudança de semestre , passei a atender o menino. Devo ressaltar em primeiro lugar, o desafio que se propôs à mim, ao atender um garoto de quatro anos. Na primeira sessão, Lucas ficou de costas quase o tempo inteiro, virado para a porta, por vezes tentando sair.

PATHOS / V. 06, n.04, 2018 35

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