Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 6º Volume | Page 25

A constituição do eu pela projeção de sua imagem refletida na superfície do semelhante (do outro) empresta o caráter ilusório de sua unidade e, como disse Lacan: “situa a instância do eu numa linha de ficção para sempre irredutível para um único sujeito” (apud. Quinet, 2011, p. 11).

Assim, o eu, na psicanálise, será sempre correspondente ao registro do imaginário, campo das ficções, mas que exercem um valor de realidade fundamental. A identificação com o outro é imediata e, por não haver a mediação do simbólico ainda, “o outro é ao mesmo tempo rival e igual”; o sujeito encontra, portanto, a imagem do seu eu no outro, objeto de identificação, agressão e paixão (Ibid., p. 11).

O segundo tempo lógico do Édipo corresponde à inauguração da simbolização que é marcado pelo jogo do carretel, do fort-da descrito por Freud em “Além do princípio do prazer” (1920), caracterizado pelo jogo de presença e ausência da mãe, em que sua falta pode ser simbolizada. A criança repete o desaparecimento e aparecimento da mãe, enunciando vocábulos que representam seu afastamento e seu retorno, através da aproximação e afastamento do carretel. Para Lacan, conforme Quinet (2011), o fato de poder simbolizar a mãe não só pelo objeto do carretel, mas também por fonemas, denuncia sua simbolização pela criança e marca a entrada na linguagem, no mundo simbólico.

No processo de simbolização da mãe (da falta da mãe, isto é, da mãe “não-toda”) existe uma mediação entre a criança e a mãe por meio da intervenção de um terceiro. A mediação paterna, correspondente a este referido “terceiro”, irá desempenhar um papel fundamental na relação mãe-criança-falo, intervindo sobra a forma de privação. Portanto, o pai aparece aqui enquanto “outro” nesta relação mãe-criança como um objeto fálico possível com o qual a criança poderá rivalizar junto à mãe.

O Nome-do-Pai é o que articula a função fálica com o complexo de castração. A mãe é, agora, “não-toda” (essa será a castração na leitura lacaniana). O Nome-do-Pai é o que barra esse Outro absoluto (para todos). O sujeito passa, portanto, de uma posição de ser falo a uma posição de falta-a-ser, entrando na dialética do ter ou não ter, que organizará as relações de objeto do sujeito (Quinet, 2011).

O terceiro momento encerra a rivalidade fálica em torno da mãe; é quando ocorre o declínio do Complexo de Édipo. A partir do momento em que o pai é investido do atributo fálico, é preciso, como disse Lacan, que ele “dê provas disso” (apud., Dor, 2003, p.88). Na medida em que intervém, no terceiro tempo, como aquele que tem o falo, e não como aquele que o é, que pode se produzir algo que reinstaura a instância do falo como objeto desejado pela mãe, e não mais apenas como objeto do qual o pai pode privá-la. (Ibid.)

PATHOS / V. 06, n.04, 2018 24

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