Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 6º Volume | Page 10

Se você tem lido relatórios recentes afirmando: “as taxas de suicídio dos EUA tiveram a maior alta em 30 anos” 2, você poderia primeiro justificar esta realidade através do fato de que as coisas parecem muito erradas em nosso mundo hoje em dia. Em termos pessoal, nacional e planetário, as pessoas estão sofrendo para sobreviver e a angústia está vindo de todos os lados - desde médico à econômico e existencial. Mas você também se pergunta, provavelmente, por que mais pessoas estão escolhendo esse caminho permanente e autodestrutivo e sente-se compelido a submeter apelos aparentemente lógicos para que seja proporcionado a esses indivíduos mais oportunidades de ajuda e melhor acesso a tratamentos. Surpresa: isso pode ser a última coisa que nossa população de necessitados, indefesa e sem esperança, necessita. Os desafios inevitáveis da vida não são o problema. São as drogas que usamos que estão fomentando o suicídio.

Enquanto estava na faculdade, no MIT3 , estudei neurociência e trabalhei como voluntária numa linha direta de suicídio durante a noite. Suicídio e mortes imprevisíveis por abuso de substâncias são muito comuns no MIT (Suicide and untimely deaths from substance abuse abound at MIT). Fui para a faculdade de medicina em Cornell e completei minha residência e bolsa de fellowship no hospital Bellevue/NYU porque acreditava que os psiquiatras haviam decifrado o código do ser humano e queria fazer minha parte para aliviar o sofrimento.

Acreditava que as pessoas que lutavam com dificuldades tinham um desequilíbrio químico e que precisávamos fazer o nosso melhor para ajudá-los a ter acesso ao apoio farmacêutico que precisariam pelo resto de suas vidas.

Durante a última década, através da minha pesquisa na literatura, aprendi que os dados contam uma história muito diferente sobre a segurança e a eficácia dos medicamentos psiquiátricos. Em geral, há dois grupos caracteristicamente distintos de indivíduos que cometeram suicídio - aqueles que nunca receberam um tratamento psiquiátrico e aqueles que receberam.

Ao contrário do que você talvez pense, evidências convincentes [1] mostram que, aqueles que se suicidaram fora do contato com tratamento psiquiátrico, não estavam mentalmente doentes e lutando em silêncio. Na verdade, provavelmente, estavam influenciados por fatores sociais, culturais e econômicos significativos que, agravados por um profundo sentimento de desconexão com os outros e com a comunidade, deixaram a autoagressão ser a única opção aparentemente viável.

PATHOS / V. 06, n.04, 2018 09

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