Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 5º Volume | Page 76

As mulheres complementam, dizendo que tinham amigas que começaram um relacionamento sério desta forma. O que pode vir nos dizer, que inconscientemente, este era o real desejo delas. Todos apontam a busca por alguém que apresente características e ideais em comum, um parceiro com os mesmos gostos, visão política, hobbies e estilo de vida.

Ao falarem sobre a possibilidade de criar um aplicativo acham que o ideal seria uma ferramenta na qual pudessem alcançar maior seletividade, de acordo com o que há em comum com cada um deles. Mariana colocaria filtros, para que pudesse haver uma escolha do parceiro a partir do gosto musical, visão política, lugares que gostem de frequentar. Rafael filtraria por gostos, como pessoas que gostam de praia, pois se houvesse uma separação, seria mais fácil encontrar a pessoa certa. Leandro daria a oportunidade de que os usuários pudessem filtrar por esportes e grupos de acordo com as escolhas alimentares. Renata daria a oportunidade selecionar quem tem filhos, quem quer namorar, pessoas que fumam, etc. As pessoas estão buscando pares que sejam iguais a elas mesmas. Assim, os grupos ficariam cada vez mais restritos e menos diversificados. Novamente cairíamos na demanda que traz a questão da liquidez, velocidade e descarte, onde os próprios sujeitos que apontam como fatores negativos, contribuem para que estas sejam características da pós-modernidade, tempo em que vivemos.

Boa parte da peleja da humanidade se concentra em torno da tarefa de achar um equilíbrio adequado, isto é, que traga felicidade, entre exigências individuais e aquelas e aquelas do grupo, culturais; é um dos problemas que que concernem ao seu próprio destino, a questão de se este equilíbrio é alcançável mediante uma determinada configuração cultural ou se o conflito é insolúvel. (Freud,1930/2016, p.58)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivemos a Era onde é a ambivalência que predomina nosso tempo, ela está presente até mesmo no discurso dos indivíduos, visto que consideram os relacionamentos mais superficiais, frágeis e menos duradouros; mas reconhecem que a liberdade de escolha, as facilidades adquiriras e o direito de expressão são essenciais para que haja satisfação e um possível ideal de felicidade. Os aplicativos representam possibilidades, em meio a tantos acessos que temos hoje em dia.

Almejamos exposição em busca de reconhecimento e popularidade, mas em contrapartida, acabamos "presos" a uma "virtualização" que nos obriga a nos escondermos por trás das redes. Tudo é mais fácil e proporcionalmente tão rápido; A velocidade dos acontecimentos atropela a necessidade de vivenciarmos certas angústias; intensidade contrapõe durabilidade. Digitar substituiu o olhar. Vivemos de excessos para que possamos evitar as nossas faltas; condenamos o passado e tememos o futuro. Por fim, o tocante está especificamente ligado ao que se dispõe e busca cada um em sua singularidade.

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PATHOS / V. 05, n.03, 2017 75