Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 5º Volume | Page 72

PATHOS / V. 05, n.03, 2017 71

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Tal expectativa é comum nessa era da liquidez, pois mesmo inseridos em uma cultura na qual a abreviação e aceleração dos relacionamentos tornaram-se normais, as pessoas procuram com quem relacionar-se e com quem possam contar. Frustração e expectativa parecem caminhar juntas nos diálogos dos participantes. Enquanto buscam conhecer pessoas com quem tenham interesses em comum, 3/4 cita ter se frustrado nos relacionamentos anteriores e essa frustração frequentemente se repete na experiência com os aplicativos e têm a ver com o que procuram no mundo virtual da afetividade. (Bauman, 2004)

Para os que se consideram mais extrovertidos, sociáveis e que saem com maior frequência, obtendo assim também mais oportunidades de conhecer pessoas através do “mundo real”, a visão sobre aplicativos para relacionamento acaba sendo mais positiva e as experiências são descritas com maior naturalidade. Já para aqueles que se enxergam como mais introvertidos e não sociáveis, o uso dos aplicativos passa a ser uma possibilidade – por vezes a única – de conhecer pessoas, se relacionar, fazer amizades, ter com quem conversar e receber certo tipo de atenção. Consequentemente, sua a visão sobre os aplicativos é mais negativa e as experiências são descritas como frustrantes.

Quando questionadas sobre a vida amorosa e sexual no futuro, 42% das mulheres que responderam a pesquisa quantitativa respondeu que gostaria de estar casada dentro de uma relação monogâmica. Frente a esse mesmo questionamento, somente 36% do sexo masculino tem a mesma expectativa. Para outra parcela da pesquisa, composta por 24% do sexo feminino e 28% do sexo masculino, morar junto com o seu parceiro é aquilo que imaginam para o futuro, não sendo necessária a formalização do casamento. Ao comparar as duas pesquisas, observamos que, frente à forma de se relacionar e conhecer pessoas, confrontando o presente e o passado, o resultado de ambas expressou que a maioria acredita que a forma de se relacionar mudou e que isso ocorreu por conta da facilidade que a tecnologia fornece e da maior liberdade existente hoje, entre outras modificações que a sociedade sofreu com o tempo.

Quando a gente pensa no passado, estando agora nessa tecnologia toda, pensamos no quanto era difícil, é muito diferente. Hoje as pessoas estão mais disponíveis ...eu acho que antes as pessoas conseguiam se dedicar mais aos relacionamentos, era melhor que agora. As coisas estão muito fáceis de se conseguir. Antes a gente podia conversar com as pessoas, hoje não acontece mais de sentar e conversar, a gente tem preguiça. (Renata)

Eu acredito que era um pouco mais sério antes, as pessoas pensavam mais em namorar, ter uma relação séria juntos quando uma gostava da outra. Hoje em dia, acho que mesmo gostando da pessoa, a galera está mais desprendida. Não quer se preocupar em ter um compromisso. Hoje em dia está mais fácil de se relacionar. Antigamente o pensamento era muito quadrado, a pessoa tinha medo de fazer algumas coisas. Hoje em dia o pessoal faz o que tem vontade e não fica preso. (Rafael)