Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 5º Volume | Page 61

PATHOS / V. 05, n.03, 2017 60

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Essa idealização é responsável pela criação ilusória de uma divindade onipotente, esta que teria a capacidade de esclarecer qualquer questão, estabelecer a moral e oferecer proteção. Já o humor oferece a “desidealização”, demonstrando assim, ser uma ferramenta eficaz, pois não alimenta a arrogância tecnicista e impede pensamentos impostos pela idealização. Diferentemente, Duarte & Wanderley (2011), apontam a religião e a espiritualidade como recurso de enfrentamento e alento ante as dificuldades que os pacientes apresentam no ambiente hospitalar, uma forma de acolhimento que eles encontram. Nesta direção, levar em consideração sua religião também significaria prestar um atendimento humanizado.

Muitos pacientes preferem falar de suas vivências fora do contexto da internação. Sentem a necessidade de falar de seus parentes, das ocupações profissionais ou mesmo de coisas mais corriqueiras. Esse tipo de interação parece retirar o paciente daquela situação temporária de internação. Entre os vários casos, destaca-se uma senhora que começou a falar de seu falecido esposo desde quando o conheceu, detalhando toda a trajetória até o falecimento do mesmo, sendo acolhida pelos palhaços atentamente. Giuliano, Silva & Orozimbo (2009), falam da importância da presença da família e de profissionais da saúde, no período de internação do paciente, pois é necessário que esse indivíduo possa compartilhar sua dor, e assim amenizar a solidão do adoecimento. Possibilitando receber um cuidado de individualidade, dando liberdade para que possa contar e se recordar de si fora do ambiente hospitalar. Se esse cuidado for oferecido pelos profissionais da saúde, também haverá um fortalecimento de vínculo, fazendo com que esse período de adoecimento não seja tão árduo para o paciente.

Pacientes recém-chegados ao hospital, ou os que estão no aguardo de algum procedimento cirúrgico, tendem a querer contar os motivos de sua internação. Os palhaços não costumam focar nesses relatos a doença, preferindo conduzir o diálogo para a cura e outros assuntos, limitando-se a tratar da doença quando não é motivo grave ou em situações onde a alta é iminente. Durante as observações foi possível notar que alguns pacientes demonstraram a necessidade de falar do motivo da sua internação, após o relato demonstravam-se mais aliviados, e nestas situações os palhaços evitavam piadas, acolhiam os pacientes, os consolando e apostando em uma recuperação rápida. Segundo Caires, Esteves, Correia & Almeida (2014) (citando Valladares e Carvalho, 2006), com o lúdico os palhaços neutralizam os fatores negativos da doença, dando também a oportunidade de escape para o paciente; também é visto como um trabalho de prevenção, fazendo com que a experiência de internação no hospital seja melhor e não cause traumas.