Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 5º Volume | Page 41

PATHOS / V. 05, n.03, 2017 40

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"Para aqueles que experimentaram o viver criativo de

forma suficiente, deparar-se com a submissão pode ser equiparado

a estar preso à uma máquina,

como num falso existir."

A crença na reparação leva o indivíduo a manter a fé de que o mundo é um lugar que corresponde a sua capacidade criativa, conservando a espontaneidade na sua atitude em relação a realidade externa, está mais próximo de uma existência saudável segundo o que concebe a teoria winnicottiana (Winnicott, 1975).

Para aqueles que experimentaram o viver criativo de forma suficiente, deparar-se com a submissão pode ser equiparado a estar preso à uma máquina, como num falso existir. Winnicott descreve algumas condições clínicas em que devido à uma insistente intrusão ambiental a capacidade espontânea e criativa do ser é posta de lado, graças a necessidade de defender-se deste ambiente. O autor descreve que a capacidade da mãe de se identificar com as necessidades do bebê, nos tempos de dependência absoluta, conduzem-na a reconhecer e validar os gestos espontâneos do bebê, possibilitando-o um sentimento de onipotência fundamental para a vivência criativa. Este impulso espontâneo, primitivo, é proveniente de um self verdadeiro, que ao ser reconhecido pela mãe começa a ter vida e a fortalecer o ego do bebê. Quando a mãe não assume esta atuação suficientemente boa, impondo o seu próprio gesto ao invés de reconhecer o do bebê, acaba por validar uma condição de submissão que possibilita o aparecimento de um falso self (Winnicott, 1983).

O falso self passa a reagir às exigências ambientais, e a submissão torna-se um aspecto principal da personalidade. Para Winnicott (1983, p. 129) a função do falso self é “a de ocultar e proteger o self verdadeiro”, diante da possibilidade de aniquilamento do verdadeiro self.