Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 5º Volume | Page 39

PATHOS / V. 05, n.03, 2017 38

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O manejo ou handling, se refere ao papel materno relacionado aos cuidados físicos do bebê, que garantirá o alojamento da psique em seu corpo. Por último, mas não menos importante, temos a apresentação de objetos, tarefa singular atribuída a mãe de apresentar ao seu bebê os objetos do mundo. O conjunto desses cuidados representa o ambiente total para o bebê, e a mãe deve desempenhar essas tarefas de forma suficientemente boa para que o bebê estabeleça bom contato com a realidade externa (Dias, 2003).

É somente através do cuidado materno contínuo que ocorre a integração do ego da criança, e somente a partir daí Winnicott passa a considerar que o bebê atingiu um status de unidade. Para o bebê, todas as experiências de cuidado realizadas de forma contínua estruturam juntas um sentido inicial de previsibilidade e continuidade, que darão origem ao sentimento de confiança no ambiente (Monteiro, 2003).

A mãe, durante o período de preocupação materna primária, é capaz de, no momento certo, apresentar o seio ao bebê faminto, que o percebe a partir de um momento de ilusão, como se este fosse uma parte sua. Este controle mágico, onipotente, é descrito por Winnicott como uma das bases da criatividade no ambiente. Ao fazer isso, a mãe proporciona ao bebê a possibilidade de sentir-se criador do que já estava lá para ser encontrado por ele.

O bebê que se encontra no estado de indiferenciação em relação a mãe é excepcionalmente sensível ao olhar materno, pois a partir deste olhar fundamentará sua previsão ambiental. A qualquer menção de ameaça, o bebê se reorganiza, tendo a autopreservação enquanto meta (Winnicott, 1975).

O olhar da mãe enquanto espelho deve refletir ao bebê nada mais do que há para ser visto, proporcionando-lhe um relaxamento e sentido de continuidade, de modo a validar o self do bebê para que este possa sentir-se real e habitar o mundo. A medida que a maturação se solidifica e a criança avança em seu desenvolvimento, sua gama de identificações aumenta em direção a saúde existencial e a dependência do rosto dos pais enquanto refletores do self, enfraquece (Winnicott, 1975).

A atuação da mãe suficientemente boa vai se modificando conforme se modificam as demandas do filho, que, aos poucos, torna-se mais competente em suportar as falhas da mãe na adaptação. Winnicott descreve um cenário onde se tudo vai bem, isto é, se o bebê vive uma experiência de cuidado suficientemente bom, nos tempos de necessidades absolutas, ele pode obter ganhos com a desilusão que a mãe o possibilita posteriormente. Se a adaptação quase perfeita é semelhante à “magia”, pois leva à ilusão de onipotência do bebê, a falha na adaptação torna os objetos reais para o bebê (Winnicott, 1975).