Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 4º Volume | Page 26

PATHOS / V. 04, n.02, 2016 25

Σ

Beatriz vai ao banheiro quando é solicitado o desenho, e novamente antes de iniciar a estória. Finaliza o desenho e quando é solicitado que conte a estória se lembra de desenhar o cachorro e acrescenta também um sol próximo a figura de Paulo. Apaga e redesenha o lábio mesmo já pintado, seguindo o padrão dos lábios dos outros membros da família. Expressa também sentir dificuldades ao desenhar olhos, fazendo comentários quando desenha os seus, sendo este o primeiro a ser executado. No relato da estória Beatriz demonstra objetividade e não trás detalhes, apenas afirma que é uma família sendo fotografada e que eles estão felizes. Entre a aplicação do desenho e a solicitação da estória, foram utilizados vinte e quatro minutos.

Antes de Lucas inicar o desenho, pede licença e vai ao banheiro. Quando volta espalha todos os lápis de cor sobre si e começa a guardá-los e organizá-lo na caixa, para depois então, iniciar o desenho. Lucas começa a desenhar a figura masculina, em seguida um outro homem, uma menina, o cachorro e uma mulher. Ele apoia a caixa de lápis de cor no desenho, cobrindo parte do mesmo, em seguida desenha o cachorro e por último uma mulher. Durante a aplicação, ele retira um lápis por vez e organiza na caixa de modo que, a cada utilização os lápis permaneçam organizados. No relato da estória, Lucas foca apenas descrever características sobre as figuras desenhadas e demonstra dificuldade para efetivamente contar uma história. Entre a aplicação do desenho e a solicitação da estória, foram utilizados trinta e três minutos.

Para compor essa análise selecionamos os trechos mais relevantes da entrevista com os pais, associando com os dados obtidos na aplicação da atividade lúdica com as crianças.

Paulo desde muito cedo nutria o desejo de reproduzir o modelo nuclear de família tradicional em que estava inserido na infância. “(...) sempre os parceiros que tive, eu tinha na minha cabeça, em algum lugar, o desejo de replicar na minha vida o modelo de família que eu tinha quando eu era criança. E então por um lado eu tinha o desejo de replicar o modelo (...).”

Porém, inseridos no contexto da homossexualidade, Paulo aponta uma possível dificuldade que enfrentaria em constituir sua família, já que dentro da comunidade gay esses valores não são muito comuns. Acrescentado ao relado de Miguel, sobre a percepção de um estranhamento dentro da comunidade gay diante de sua condição de estar casado e com filhos. “dentro da comunidade gay, a gente é diferente (...) olham às vezes e como se quase falando por que que vocês querem fazer como os casais heterossexuais?.”

Dessa forma, Viera (2011, p. 12) nos trás a seguinte reflexão ao referir-se sobre essa questão:

Ou seja, continua-se a utilizar o ideal heterossexista como ideal de família e a família homoparental tem que seguir, de alguma maneira, tais parâmetros, tanto para se sustentar enquanto família – grupo vincular afetivamente “indissolúvel” e “seguro” – como para conseguir reconhecimento social e jurídico (...).

Foto: Andréia Alves Teixeira

Alfatbetização com jogos