Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 4º Volume | Page 15

PATHOS / V. 04, n.02, 2016 14

Os atendimentos são divididos em três momentos: conversa, leitura e jogos, planejados de acordo com as necessidades de cada grupo e de cada aluno em sua individualidade. As conversas têm tema livre. Disponibilizo o espaço para que falem livremente e vou mediando para garantir que todos participem e possam fazer colocações acerca do que está sendo dito pelo outro, ajude-o a pensar, coloque-se em outros lugares ao opinar e desenvolva empatia. A leitura é realizada por mim, por eles ou por nós, com o objetivo de desenvolver o gosto pela leitura e a fluência. Os jogos são escolhidos considerando a necessidade afetiva, emocional e cognitiva dos alunos. As intervenções acontecem com intuito de ajudá-los a questionar, encontrar outras possibilidades, elaborar estratégias, levantar hipóteses, lidar com perdas e vitórias, desenvolver competitividade saudável, lidar com limites, frustração, respeitar combinados e regras.

Todos os momentos são oportunidade de mobilizar (tornar móvel) a cristalização de lugares e jeitos de ser, de estereótipos. O aluno que “nada sabe” vai mostrando o que sabe; o mais “lento” percebe que deve ser respeitado em seu tempo; a criança “agressiva” aprende que o jogo só pode acontecer se houver respeito; todos, até mesmo os mais “apáticos”, contaminam-se pela proposta. Orientações e trocas com os professores das salas regulares se fazem necessárias e ocorrem a todos os momentos.

Os alunos permanecem no projeto até apresentarem condições de serem incluídos de fato na turma a que pertencem e tenham competências mínimas para acompanhar o currículo comum da série/ano em que estão. Muitos deles precisarão de reforço escolar para minimizar a defasagem e, por vezes, o abismo que se criou ao longo de sua vida escolar. Agora, porém, compreendem que as pessoas são diferentes, que precisam existir maneiras diferentes de ensinar, que não são incapazes de aprender, que é possível serem ouvidos e darem opiniões. Estão fortalecidos, orgulhosos de si, as relações mudaram, a maneira de se colocar e ser dentro do ambiente escolar mudou.

De acordo com a definição de saúde mental apresentada no início deste relato, é possível dizer que seguirão muito mais saudáveis em sua trajetória escolar, e por que não dizer, em suas vidas como um todo!

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Alfatbetização com jogos

Foto: Andréia Alves Teixeira