Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 3º Volume | Page 51

PATHOS / V. 03, n.02, 2016 50

Num influente livro de 1996, o linguista George Lakoff concordou com Hunt que o novo antagonismo que se via nos Estados Unidos opunha visões de mundo baseadas em concepções da autoridade moral, mas definiu essa oposição de maneira um pouco diferente. Apoiado na teoria da centralidade das metáforas para a formação dos conceitos, ele notou que as guerras culturais se assentavam no confronto de duas metáforas familiares para a sociedade, isto é, os dois discursos olhavam para a sociedade como uma grande família: uma família com pai rigoroso e uma família com pai carinhoso – e, para cada visão da sociedade como família, esse pai metafórico imporia uma ordem moral. Assim, na perspectiva conservadora, teríamos uma ordem moral punitiva e disciplinar e, na progressista, uma ordem compreensiva. (p.01)

A partir desses pontos de vista, o professor assinala que as questões acerca das discussões políticas hoje no Brasil se dão em torno do que se deve fazer diante do “erro” das pessoas. Como, por exemplo, no caso do aborto, o feto não tem importância para nenhum dos lados na discussão. O que importa é se a política será punitiva com a mulher, que terá de criar um filho mesmo acreditando não ser sua hora de ser mãe, ou será compreensiva com ela. Quem defende o feto em razão de ser favorável à vida, comumente é a favor da pena de morte e de punições severas. Do mesmo modo, quem é contra a pena de morte tende a defender a desproibição do aborto e a morte do feto. Se pensarmos pela lógica da questão moral, ou mesmo na lógica das metáforas, a incoerência se desfaz, pois a discussão não se pauta no valor da vida. O que está em jogo é uma disputa por um Estado mais severo e punitivo, de um lado, e, de outro, um Estado compreensivo e que aposte na reabilitação, na capacidade de desenvolvimento humano dos cidadãos.

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