Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 3º Volume | Page 16

A fusão pulsional, ou a desfunsão pulsional, nos remete a situar a incorporação em relação a última teoria das pulsões. Estaria a incorporação sob a égide da pulsão de morte? Segundo Laplanche (2001) a incorporação, neste momento metapsicológico, passa a privilegiar a fusão entre libido e agressividade. Mas o que dizer da fantasia de incorporação ao vincular a pulsão de morte ao princípio do prazer? Considerando o princípio do prazer como uma descarga de energia e evacuamento de toda tensão desagradável, a pulsão de morte vincula a ele na medida em que se encontra a seu serviço, tendo como horizonte o princípio do nirvana.

Este vinculo da pulsão de morte ao princípio do prazer, dá a incorporação uma dimensão alienadora no processo de subjetivação pois, na medida em trata-se de uma “espécie de amor capaz de coexistir com a eventual interrupção da existência própria e autônoma do objeto”, ela oferece, no âmbito da onipotência, o ilusório domínio sob o outro, formatando um contexto de impossibilidade para uma constituição subjetiva em bases autônomas.

No fim é do desamparo que estamos falando, esta marca indelével da condição humana que nos coloca numa relação de dependência com o outro enquanto condição de sobrevivência. A presença inexorável do outro na constituição do corpo erógeno é o que “equivale a dizer que é o investimento libidinal no corpo da criança, realizado por esse outro maternal, que, ao tornar o corpo erógeno, permite ao sujeito o acesso à simbolização”. (Fernandes, 2006) Nosso velho fort’da que nos diz que para suportar o desprazer da ausência é preciso ter tido uma presença acolhedora, uma boca cheia de palavras capazes de sustentar um movimento introjetivo.

Mas o que dizer do vômito? O que acontece com Edna toda vez que ela vomita? O que o seu desenho pode nos dizer sobre isso? Estas perguntas ficaram em aberto, faremos a seguir uma breve introdução.

Vômito: Breve introdução

A partir da perspectiva desenvolvida por Bleichman (1994), há evidências de ser o vômito de Edna, desde suas primeiras manifestações, de ordem psíquica, na medida em que se encontra comprometido com o inconsciente materno. Nos primeiros momentos o vômito seria da ordem de um transtorno, pois não poderíamos falar de instâncias constituídas e, portanto, da formação de compromisso característica do sintoma. E no momento em que chega para análise, poderíamos dar ao vômito o estatuto de sintoma?

Pergunta que merece desdobramentos importantes dentro do processo de constituição subjetiva e que poderão ser objeto de futuros trabalhos. Porém, se apropriarmos do que privilegiamos até aqui, ou seja, a possibilidade de estarmos diante de uma fantasia de incorporação, a concepção de fantasia, na perspectiva freudiana, pressupõe uma formação egoíca, mesmo que incipiente, neste caso o vômito apresentaria como sintoma, este entendido como uma “formação do inconsciente, produto transacional entre os sistemas psíquicos, efeito de uma não lograda satisfação pulsional” (Bleichman 1994:10)

PATHOS / V. 03, n.02, 2016 15

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