Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 40

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 39

À luz do conceito de consciência possível de Goldmann (1972) a dinâmica utilizada nos encontros acontecia por meio da troca espontânea dos integrantes sobre a interrogação de como cada qual compreendia o significado da sexualidade. Observou-se que, espontaneamente, a conversação fluía, trazendo à tona toda gama de emoções e questionamentos, os quais expressavam as inquietações que permeavam cada grupo.

Os sentimentos mais frequentes eram a vergonha e o receio de falar sobre a própria sexualidade. Percebia-se, ainda, que existia uma imensa dificuldade por parte das adolescentes para reconhecerem-se na sua integridade, na relação e na Inter-atuação com o outro.

Também, as relações homoafetivas - comuns em situação de confinamento - confundem-se com a definição da orientação sexual, pois a homossexualidade era percebida e abordada com preconceito, segregando ainda mais estas adolescentes já discriminadas.

As manifestações de afeto dentro do ambiente da privação de liberdade revelavam as mesmas nuances que estão subjacentes nas relações sociais, mas a privação acentua e intensifica o aparecimento de relações de dependência afetiva e sentimento de posse.

Para tratar dessas emoções procurou-se valorizar a escuta respeitosa, afetuosa e protegida pelo compromisso de sigilo coletivo. Buscou-se imprimir nestes encontros o respeito e o cuidado diante dos segredos revelados e da construção de vínculo de confiança entre os participantes. Com essa segurança, os mistérios que subjazem às representações vivenciadas pelas adolescentes começaram a ser revelados e trazidos à consciência.

O conhecimento e o trato delicado e sutil de suas intimidades permitiu que se aproximasse das adolescentes de tal forma a auxiliar e promove-las no preparo para o autodomínio de emoções e enfrentamento de situações adversas.

“Eu aprendi a me conhecer melhor, a me compreender mais e que na relação sexual nem tudo é proibido, apenas devemos fazer o que gostarmos, pois no sexo aprendi que vale tudo que nos satisfaz. E não se esqueça de saber as vontades de seu parceiro, pois sexo todo mundo sabe fazer, amor é raro, quem faz entende o que é”. ( Helli, 17 anos)