Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 31

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 30

Contra a posição da vítima, podemos pensar na posição do guerreiro sutil, aquele que desafia o poder desde a sua interioridade, desde seu núcleo duro, para desmontá-lo estrategicamente (p.02).

Nessa desconstrução cabe a ele reconhecer as relações de poder instituídas nos espaços de trabalho, problematizando-as junto à equipe, colocando-se de maneira crítica e ética frente às situações de violências, denunciando-as aos setores competentes. O psicólogo deve reconhecer em sua atuação, e junto aos demais profissionais, as especificidades da adolescência, de cada sujeito e os atravessantes da internação que corroboram para os sofrimentos. É necessário perceber as demandas existentes em cada caso, especialmente as que são de ordem de saúde mental, e proceder aos devidos encaminhamentos. Além disso, é importante posicionar-se de maneira crítica e ética junto à instituição, à rede de serviços e ao judiciário quanto ao trabalho realizado, bem como suas necessidades (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2010).

Não obstante, para que o trabalho responsável e ético ocorra e, sobretudo, para que a lógica do embrutecimento não prevaleça, o psicólogo deve rever frequentemente a sua prática, não perdendo as balizas ético-teóricas e tendo como ideal a formação continuada, supervisão e análise pessoal. Penso que esse caminho seja interessante para que o profissional reconheça seus limites, se mantenha sensível e se incomode. O incômodo é um bom norteador contra o embrutecimento. Enquanto ele existir, as práticas necessárias de trabalho poderão ocorrer. Quando não mais nos incomodarmos com aquelas situações, estaremos entrando, eticamente falando, em um terreno perigoso.

Voltando ao caso fictício de Mônica, ele nos ensina que a Medida de Internação é a consequência de toda uma história de mazelas e descasos. Mônica vivia em situação de vulnerabilidade social, com moradia insalubre e falta de recursos do Estado que efetivamente proporcionassem a essa família outras oportunidades. A história de Mônica nos chega pela via do ato infracional, não obstante, deveria ter sido acolhida anteriormente pelo campo da educação, saúde e da assistência. O que o psicólogo, já no ambiente socioeducativo, poderia fazer diante de um caso como esse? Proceder a encaminhamentos à psicoterapia para que a adolescente possa elaborar suas vivências traumáticas? Para atendimentos em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) ou CAPS álcool e drogas (CAPSad) para tratar a questão do uso abusivo de drogas? Buscar os encaminhamentos necessários para sua mãe, tendo em vista que também sofreu violência? Posicionar-se como um elemento guia para a adolescente e equipe de trabalho no contexto da internação? Sim, sim, sim para todas as questões.