Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 20

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 19

Aqui nos deparamos com um outro fator importante e real, será que o tempo máximo de internação de 3 anos é pouco ou o que deveria e poderia ser feito nesses 3 anos não esta sendo feito, ou pior, sendo feito de forma a propagar ainda mais a violência e a criminalidade, gerando através de um sistema punitivo o sentimento de vingança nesses jovens.

Segundo o relato dos 18 profissionais pesquisados de serviços de medida socioeducativa, o relato é unanime, em todas as falas dos jovens atendidos por esses funcionários, há indícios de violências sofridas dentro das instalações da Fundação CASA em suas diversas unidades. As violências mais frequentes encontradas nos relatos são: situações vexatórias e humilhantes, tortura psicológica, ameaças, violência física, abuso sexual, entre outras.

Os relatos são bem homogêneos quando se referem ao processo de profissionalização ofertado pela fundação CASA, a maioria relata cursos profissionalizantes desarticulados e sem sentido, ao que uma pequena parcela de jovens acaba fazendo uso após sua saída da Fundação CASA. Outro dado relevante é que mesmo devendo haver continuidade dos estudos dentro das unidades em regime fechado, a maioria dos jovens apresentam dificuldades básicas em relação a questão do ensino aprendizagem, apresentando altos índices de analfabetismo, semianalfabetíssimo ou ainda analfabetismo funcional, o que dificulta também sua reinserção escolar após sua saída.

Nesse sentido há uma grande preocupação, pois inúmeros fatores se apresentam como complicadores no sucesso da reinserção escolar, como por exemplo, o fato da maioria das escolas públicas serem conteudistas, situação essa que reflete em uma não preocupação efetiva com o ensino aprendizado desses jovens, muito menos com o processo socioeducativo, pelo contrario, o objetivo é somente ministrar e passar o conteúdo exigido.

Dessa forma, em paralelo a outros fatores como a dificuldade de assimilar e respeitar regras e limites por parte dos jovens, o preconceito, o estigma, e a falta de preparo da maioria dos profissionais da escola, a pouca articulação da rede, são índices relevantes e presentes no dia a dia dessa realidade.