Pathos: revista brasileira de práticas públicas e psicopatologia 2º Volume | Page 14

PATHOS / V. 02, n.01, 2015 13

Foucault nos fala de uma verdade existente, mas as vezes com pouco espaço para aparecer e se presentificar, vejamos:

No fundo da prática científica existe um discurso que diz: nem tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo o momento existe uma verdade a ser dita e a ser vista, uma verdade talvez adormecida, mas que no entanto está somente a espera de nosso olhar para aparecer, a espera de nossa mão para ser desvelada. A nós cabe achar a boa perspectiva, o ângulo correto, os instrumentos necessários, pois de qualquer maneira ela está presente aqui e em qualquer lugar. (FOUCAULT, 2008, p. 113).

Nessa hora, a partir das palavras de Foucault talvez caiba a reflexão a quem caberia ofertar esse espaço para a verdade do outro. De qual verdade estaríamos nos referindo e se de alguma forma participamos dessa construção social. Será esse adolescente infrator um produto social?

Segundo Paulo Endo, a dupla estado e sociedade teriam um papel fundamental perante o fenômeno da criminalidade e da violência:

As violências cometidas na cidade, em hipótese alguma podem ser desatreladas da violência que a cidade, por meio de seus dispositivos públicos, pratica contra seus cidadãos e dos mecanismos que a alicerçam. (ENDO, 2005, p.53).

Um grande pesquisador e teórico da psicanálise, chamado Donald W. Winnicott, conhecido também por sua longa experiência com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco na época da 2ª Guerra Mundial, atendeu mais de 60 mil crianças que sofreram algum tipo de deprivação , em função ao período de guerra, como por exemplo, foram abruptamente afastados de suas famílias de origem, de sua comunidade local, escola e amigos, e que consequente denotaram o desenvolvimento de comportamentos ditos inadequados, hoje intitulados atos infracionais, como por exemplo, roubo, furto, agressões, danos ao patrimônio, entre outros.

Nesse época, por volta da década de 1940, a psicanálise entendia a delinquência e os distúrbios de caráter como angustias frente à dualidade amor e ódio.