O reencontro da esquerda democrática e a nova política | Page 44
O ‘golpismo de esquerda’ – que infelizmente marcou boa
parte do pensamento e da ação política das correntes populares no Brasil – é apenas uma resposta equivocada e
igualmente ‘prussiana’ aos processos de direção ‘pelo alto’
de que sempre se valeram as forças conservadoras e reacionárias em nosso país.
A desvalorização do Parlamento se articulava com a defesa
aberta ou velada de posições ‘golpistas’: as forças progressistas deveriam se apossar do Executivo e encaminhar de cima
para baixo, sem considerações pelo Parlamento e pela sociedade civil, as reformas necessárias ao progresso social.
Essa superestimação do Executivo não levava apenas a tentações ‘golpistas’. Levava também a que boa parte do trabalho de
mobilização política das forças democráticas e populares se concentrasse na conquista do Executivo (ou na pressão sobre ele),
com a consequente subestimação da importância central da organização autônoma das massas populares. E essa organização
é o único instrumento para mudar a composição e o caráter do
Parlamento, seja para controlar ou mesmo determinar a ação
do próprio Executivo. Por outro lado, como as forças populares
foram obrigadas a constatar nos últimos anos, o fortalecimento
do Executivo em detrimento do Parlamento não foi garantia de
progresso social, mas antes serviu para reforçar o domínio dos
monopólios e das multinacionais.
Assim, antes de mais nada, foi a própria vida que colocou a
tarefa de fortalecer o Congresso Nacional como um dos meios
fundamentais para a construção em nosso país de um regime de democracia política. A própria ideia de uma Assembleia
Constituinte, como coroamento do processo de transição para
esse regime, não é apenas o sepultamento de qualquer ilusão
‘golpista’, de qualquer solução imposta de cima para baixo,
mas é também o reconhecimento do papel essencial do Parlamento na nova ordem política e social que os socialistas desejam para o Brasil.
Essa reavaliação do papel do Parlamento resulta também da
concepção da democracia como elemento estratégico na luta
pela renovação social do conjunto da nação.
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O reencontro da Esquerda Democrática e a Nova Política