O reencontro da esquerda democrática e a nova política | Page 30
Porém, a Frente do Recife se movimentava em um contexto nacional difícil.
É que a campanha para a Presidência da República, dois
anos antes, já havia esfriado o relacionamento da Frente com o
governador, pois o seu partido, a UDN, apoiara o vencedor Jânio
Quadros, enquanto comunistas, socialistas e trabalhistas fizeram
campanha para o general Henrique Teixeira Lott, da coligação
PSD-PTB-PSB.
A posse do vice-presidente João Goulart, do PTB, após a
renúncia de Jânio Quadros, fortaleceu a candidatura de Arraes.
Mas, por outro lado, a conjuntura de radicalização e polarização
política da época levou à resistência das forças centristas e conservadoras ao nome da Frente do Recife.
Os líderes regionais da UDN enquadraram o governador,
que se viu obrigado a apoiar a candidatura do usineiro João Cleofas. O PSD se dividiu e uma ala fechou com Arraes, indicando o
deputado Paulo Guerra para vice. As forças conservadoras receberam muito apoio econômico e financeiro, inclusive externo, para
derrotar a chapa progressista, porém em vão. Arraes recebeu
47,9% dos votos e o seu adversário da UDN, 45,6%.
Pernambuco tinha, então, uma economia predominantemente agrária, baseada na agroindústria, em especial na produção
extensiva da cana-de-açúcar, na Zona da Mata, e no cultivo do
algodão e da pecuária, no agreste e no sertão.
A exploração canavieira em latifúndios e a falta de apoio a
uma agricultura de subsistência, com frequente desabastecimento
de alimentos nas zonas de usina, elevavam o conflito social no
campo, cuja maior expressão foi o surgimento das radicalizadas
Ligas Camponesas, lideradas pelo advogado e deputado estadual
Francisco Julião, do PSB.
Como economista do Instituto do Açúcar e do Álcool, nos
anos 1940, Arraes compreendia o desafio de tirar a economia
açucareira de Pernambuco da decadência. Atuou para modernizar
o setor e, em especial, para mitigar o conflito social no campo.
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O reencontro da Esquerda Democrática e a Nova Política