O reencontro da esquerda democrática e a nova política | Page 154

dência, precisou atrair o apoio de grandes partidos como o PFL, setores do PMDB e de partidos médios como o PTB. Após a sua primeira eleição, em 1994, pela coligação PSDB-PFL, Fernando Henrique Cardoso precisou compor uma maioria parlamentar com setores do PMDB, partido que havia lançado Orestes Quércia candidato à Presidência, e com o PTB. Na sua reeleição, em 1998, os partidos que compunham a sua base conseguiram a maioria de parlamentares. Em 2002, Lula, igualmente minoritário ao assumir a Presidência, precisou atrair congressistas para a sua base de apoio, especialmente com a adesão em bloco do PMDB, após o escândalo do mensalão, em 2005. Na sua reeleição, em 2006, e na eleição de Dilma, em 2010, Lula conseguiu manter a coligação governamental e até ampliá-la. Mas, heterogênea e sem identidades programáticas, tal amplitude não resultou em melhorias na administração e no sistema político. Eis uma disfuncionalidade do presidencialismo: um governo de maioria, legitimamente eleito, vê-se obrigado a formar a posteriori uma maioria no Congresso, igualmente legítima, porém não igualmente comprometida com o programa do presidente eleito, aprovado pelos eleitores nas urnas. Tal disfuncionalidade aparece com clareza nos Estados Unidos, em que o presidente eleito e reeleito Barack Obama se vê obrigado a negociar o seu programa com a maioria do Partido Republicano no Congresso, gerando seguidos impasses. No Brasil, sabemos, as negociações do presidente eleito com os partidos, não são, na maioria dos casos, em bases programáticas e de identidade com a plataforma vitoriosa nas urnas, mas em troca de cargos na administração federal, sem falar em pura corrupção como aquela narrada no processo do mensalão. Aqui está uma das vantagens do sistema parlamentarista de governo: a maior nitidez do jogo político. O governo é formado a partir da maioria estabelecida pelo eleitor. Cabe ao partido, ou à coligação majoritária no Congresso, a prerrogativa de formar o 152 O reencontro da Esquerda Democrática e a Nova Política