O reencontro da esquerda democrática e a nova política | Page 153

pelo presidencialismo. Prevaleceu entre os petistas a velha visão de que, uma vez no comando da Presidência da República, seria possível realizar transformações por um partido que fosse uma vanguarda progressista, pelo alto, de cima para baixo. Talvez, reproduzindo, como escreveu Carlos Nelson Coutinho, uma visão elitista do processo político e, de certo modo, golpista (60). Podemos afirmar que tal visão tenha sido uma reverberação do leninismo presente nos grupos fundadores do PT? Para a esquerda democrática, a posição favorável ao parlamentarismo estava baseada no entendimento de que a realização das transformações políticas, econômicas e sociais seria um processo de construção de uma vontade majoritária na sociedade, negociada por diferentes partidos políticos progressistas, em torno de um programa comum. Tal processo, articulado pela mobilização da sociedade civil, teria como palco privilegiado o Parlamento. É possível encontrar aqui influência do pensamento gramsciano? No presidencialismo, a vitória eleitoral de um candidato à Presidência da República não garante necessariamente uma maioria do seu partido ou de sua coligação no Congresso Nacional. Tal maioria governativa não se estabelece mesmo quando há coincidência da eleição presidencial com as eleições parlamentares, como atualmente no Brasil. No período republicano de 1945 a 1964, apenas nos governos de Eurico Gaspar Dutra, de 1946 a 1951, e de Juscelino Kubitschek, de 1956 a 1961, a coligação do presidente, formada por PSD e PTB, obteve maioria parlamentar. Getúlio Vargas, de 1951 a 1954; Café Filho, de 1954 a 1955; Jânio Quadros, em 1961; e João Goulart, de 1961 a 1964, assumiram o comando do país com os seus partidos ou coligações em situação de minoria na Câmara dos Deputados. No período chamado de Nova República, de 1985 até hoje, foram poucos os momentos em que o presidente eleito conseguiu também maioria do seu partido e da sua coligação no Congresso Nacional. Fernando Collor, de 1990 a 1992, era amplamente minoritário entre os congressistas com o seu PRN. Uma vez na PresiA democratização do sistema político 151