O reencontro da esquerda democrática e a nova política | Page 148

Igualmente, uma reforma previdenciária foi abandonada por desonerações de contribuição ao INSS, sem discussões no Parlamento e sem consultas ao movimento sindical. Empurrada pelas circunstâncias, só em 2013 a presidente regulamentou o fundo de previdência complementar do servidor público, previsto na reforma da previdência do setor público, aprovada no primeiro mandato de Lula. Quase metade da receita líquida federal é hoje destinada à previdência (36,8% para o INSS e 10,2% para inativos e pensionistas). A metade que sobra tem, assim, que custear todos os outros gastos da máquina pública, cuja maioria não pode ser descontinuada. Resultado: nosso ajuste fiscal tem se dado, em grande parte, pela compressão do investimento público, que representa apenas 1% do PIB e menos de 7% da despesa primária. Estudos mostram que, embora ainda sejamos um país jovem, gastamos com previdência o mesmo que gastam países desenvolvidos e com estrutura etária já envelhecida, como o Reino Unido, e que, para custear tal nível de despesas, também aplicamos elevadíssimas alíquotas de contribuição previdenciária. Por preconceitos ideológicos, visão atrasada do papel contemporâneo do Estado e por oportunismo eleitoral, as concessões públicas e as Parcerias Público-Privadas pouco caminharam na gestão Lula, sendo retomadas, de forma atabalhoada e impositiva, no governo Dilma. Fechado em intramuros, o governo cedeu aos lobbies de diversos setores econômicos. A legítima reivindicação da indústria de diminuir os seus custos, entre eles os de energia elétrica, foi encaminhada de forma autoritária. O governo corretamente desonerou os tributos federais para o setor elétrico, mas alterou os contratos com as empresas concessionárias, de forma impositiva, obrigou a uma redução de tarifas, comprometendo a capacidade de investimento da área. E não faltaram alertas até mesmo de simpatizantes históricos do PT, como os do físico e ex-presidente da Eletrobras, Luiz Pinguelli Rosa, para quem o problema mais crítico do setor não estava na tarifa, mas na expansão da oferta de eletricidade. (48) 146 O reencontro da Esquerda Democrática e a Nova Política