O reencontro da esquerda democrática e a nova política | Page 119
e alheio à mediação institucional, e portador de um certo modo de
“conceber a competição democrática”:
Trata-se, dissemos, de uma cultura, de um modo de ser na sociedade e nas instituições não isento de riscos para a livre dialética
democrática. Quase não há setor da sociedade a salvo dos procedimentos de cooptação: no Parlamento, partidos de criação
recente, nascidos (…) como meros empreendimentos para esvaziar as agremiações oposicionistas, são assediados com a perspectiva de um poder que parece avesso à perspectiva normal da
alternância democrática. Na vida econômica, à falta de um horizonte que se possa minimamente chamar de socialista, no sentido de modelo alternativo viável, o risco é a afirmação de um capitalismo mercantil, tão perigoso quanto o seu oposto liberal para
o estabelecimento de uma relação equilibrada entre mercado e
economia, bem como para a possibilidade de regulação democrática da própria economia. Esta surpreendente capacidade de
fagocitose equilibra-se – de modo eleitoralmente rendoso, mas
substantivamente falso – com a seleção “sábia” do inimigo a ser
abatido, seja de que modo for. Um cenário no qual o “neoliberalismo tucano” faz às vezes de cômodo alvo retórico contra o qual
se movimenta o sistema de poder do partido hegemônico, com
seu séquito de empreiteiras, bancos e o grande negócio agrário,
para não falar de todo o leque mais expressivo da velha e atrasada direita política nacional. Tanto quanto a vista descortina, não
seria mesmo possível ir além de variados tipos de compromisso
entre as forças de mercado e as razões civilizadoras e emancipadoras da democracia política. Não se poderia cobrar da esquerda hegemônica e muito menos dos setores da esquerda democrática que suprimissem o mercado ou o sistema de empresas,
num surto estadocêntrico que, no passado, se revelou insuficiente
e até nocivo à ideia de uma sociedade tendencialmente autorregulada. (…) Poder-se-ia, no entanto, esperar, depois de um quarto de
século de vida constitucional, a presença iluminadora de uma
esquerda de governo que compreendesse plenamente a sociedade
aberta, o Estado democrático de Direito e a defesa esclarecida da
supremacia da esfera pública neste tipo de Estado”. (35)
A polarização PT x PSDB, os intelectuais e PT-PMDB
117