O reencontro da esquerda democrática e a nova política | Page 117

Ela não faz mais sentido há tempo. A pauta que a organizou, de caráter eminentemente dicotômico – tipo: se o PT diz isso, o PSDB diz precisamente o oposto, e vice-versa –, já não responde mais à sociedade real que se constituiu no país. Como os partidos e os políticos são conservadores – não em termos ideológicos, mas em termos de resistência à mudança-, e como a influência do marketing político continuará a se fazer sentir, a polarização poderá ter sobrevida. Não saberia dizer se ela será desativada na próxima eleição presidencial. Mas creio que enquanto ela se mantiver, não sairemos da crise atual e nem conseguiremos pensar adequadamente o futuro. Se fosse possível falar em termos de ideias, o melhor seria que surgisse uma alternativa que pulverizasse essa polarização, que a desativasse e propiciasse ao PT e ao PSDB um retorno às suas origens, um independentemente do outro, mas ambos se respeitando e buscando trabalhar de modo mais articulado. Eles não cabem no figurino estreito da dicotomia esquerda versus direita. Na entrevista, ele vê as mobilizações de rua como um novo ciclo democrático no país: Os protestos expressam o desejo de muitos grupos sociais – e sobretudo dos jovens – de participar da política, mas desde que a política seja distinta, seja mais receptiva, tenha outros conteúdos e siga outros procedimentos. É nesse sentido que eles são a “plataforma democrática” a que me refiro. (…) Eles podem ter uma influência extraordinária tanto sobre os partidos quanto sobre a política como um todo, pressionando-os a agir de outro modo, forçando-os a voltar a dialogar com a sociedade, incentivando-os a trocar os conchavos palacianos pelo embate com a vida cotidiana, com as ruas e as pessoas, exigindo que sua comunicação política e sua propaganda se soltem das estratégias mercadológicas e midiáticas. Em termos organizacionais, os protestos estão a sinalizar, para os partidos, que a estrutura centralizada e burocrática em que funcionam não é mais palatável, não tem condições de atender às expectativas sociais e nem à dinâmica A polarização PT x PSDB, os intelectuais e PT-PMDB 115