O reencontro da esquerda democrática e a nova política | Page 111
José Arthur Giannotti, filósofo e professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP, em texto no qual defende a candidatura
de José Serra, no segundo turno da eleição presidencial de 2010,
vê PT e PSDB como partidos semelhantes ocupando a mesma posição no espectro político. Mas ressalta uma diferença significativa
entre eles. Enquanto o PT seria mais propenso ao intervencionismo estatal direto na economia, o PSDB seria mais favorável ao
Estado regulador:
Não há no horizonte qualquer perspectiva neoliberal, pois os
dois concorrentes à Presidência da República (Serra e Dilma)
são profundamente intervencionistas, pedem um Estado forte,
capaz de controlar democraticamente as instituições e o capitalismo brasileiro. A diferença reside na forma da democracia
proposta e no modo de intervir no capital. Depois do insucesso
do socialismo real, que se mostrou um capitalismo de Estado
propício a regimes ditatoriais, tornamo-nos socialdemocratas.
Somos obrigados a conviver com um sistema capitalista de
produção assentado em diversos mercados.
(…) Não é por isso, entretanto, que devemos acreditar que o
movimento dos interesses privados naturalmente se ajustaria a
padrões de justiça social. O mercado trama ilusões que abrigam
sistemas injustos de troca sob a aparência de operações equilibradas. Bom exemplo são os efeitos perversos do mercado
imobiliário na cidade de São Paulo. Daí a importância da política. Mas, para ser democrática, não pode deixar nas mãos dos
gestores instrumentos permitindo-lhes bloquear a luta pelo
poder. É desse ponto de vista que a privatização deve ser discutida, pois nem sempre implica perda para os fundos públicos.
Tudo depende de como a empresa privada fica submetida a
uma regulação pública e ao sistema tributário. Quando um
partido submete uma empresa pública a seus interesses, ela se
torna privada.
Se reconhecermos a necessidade da alternância do poder, já
que um único partido não é capaz de anular as injustiças provoA polarização PT x PSDB, os intelectuais e PT-PMDB
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