O reencontro da esquerda democrática e a nova política | Page 101
Werneck termina sua análise, com uma conclusão que parece profética diante das atuais dificuldades do presidencialismo
de coalizão:
De qualquer sorte, da perspectiva de hoje, já visível o marco de
2010, não se pode deixar de cogitar sobre as possibilidades de
que o condomínio pluriclassista que nos governa venha a encontrar crescentes dificuldades para sua reprodução, em particular
quando se tornar inevitável, na hora da sucessão presidencial, a
perda da ação carismática do seu principal fiador e artífice. Na
eventualidade, no contexto de uma sociedade civil desorganizada, em particular nos seus setores subalternos, e do atual desprestígio de nossas instituições democráticas, a política pode se
tornar um lugar vazio, nostálgico do seu homem providencial, ou
vulnerável à emergência eleitoral da direita, brandindo seu
programa de reformas institucionais, entre as quais a de simplificar ao máximo o papel do Estado, a ser denunciado como agência patrimonial, fonte originária da corrupção no país. Impedir
isso é a tarefa atual da esquerda. Mas ela somente reunirá credenciais para tanto, se, rompendo com o estatuto condominial vigente, for capaz de reanimar seus partidos, aí compreendido o PT, e
de estabelecer vínculos concretos com os movimentos sociais,
sempre na defesa da sua autonomia, em torno de suas reivindicações. E, sem preconceitos, favorecer alianças, nas eleições e fora
delas, com todos os partidos, associações e personalidades de
adesão democrática, em favor de um programa centrado no objetivo de destravar os entraves ao crescimento econômico e de
promover a justiça social. (16)
Uma aliança sem programa?
Um dos exemplos mais ilustrativos do presidencialismo de
coalizão e da natureza da política de alianças do PT foi quando das
discussões do programa de governo da cand