O reencontro da esquerda democrática e a nova política | Page 100
A análise de Luiz Werneck Viana está exposta no seu texto
O Estado Novo do PT, de julho de 2007, do qual reproduzimos
alguns trechos:
A composição pluriclassista do governo se traduz, portanto, em
uma forma de Estado de compromisso, abrigando forças sociais
contraditórias entre si – em boa parte estranhas ou independentes dos partidos políticos –, cujas pretensões são arbitradas no
seu interior, e decididas, em última instância, pelo chefe do Poder
Executivo. Capitalistas do agronegócio, MST, empresários e
sindicalistas, portadores de concepções e interesses opostos em
disputas abertas na sociedade civil, encontram no Estado, onde
todos se fazem representar, um outro lugar para a expressão do
seu dissídio.
(…) Contorna-se, pois, o parlamento real e o sistema de partidos
na composição dos interesses em litígio, que somente irão examinar da sua conveniência, em fase legislativa, quando couber.
Com essa operação, a formação da vontade na esfera pública não
tem como conhecer, salvo por meios indiretos, a opinião que se
forma na sociedade civil, e as decisões tendem a se conformar
por razões tecnocráticas.
(…) O governo, que acolhe representantes das principais corporações da sociedade civil, ainda se vincula formalmente a elas
pelo CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social).
A representação funcional lhe é, pois, constitutiva. A ela se agregam, nos postos de comando na máquina governamental, os
quadros extraídos da representação política. Contudo, uma vez
que, pela lógica vigente do presidencialismo de coalizão, a formação de uma vontade majoritária no Congresso é dependente da
partilha entre os aliados de posições ministeriais, os partidos
políticos no governo passam a viver uma dinâmica que afrouxa
seus nexos orgânicos com a sociedade civil, distantes das demandas que nela se originam. Tornam-se partidos de Estado, gravitando em torno dele e contando com seus recursos de poder para
sua reprodução nas competições eleitorais.
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O reencontro da Esquerda Democrática e a Nova Política