O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 62
60
O QUEIJO DE COALHO EM PERNAMBUCO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
COMMERCIO DE IMPORTAÇÃO
IMPORTAÇÃO DE QUEIJO
Data: 06-03-1862
Vapor Inglês vindo de Southampton
.. 1 cx queijo a D.P. Wild
...2 cxs queijo a M.G.C da Fonte
...20cxs queijos a RABLE Thom E.C
...25 cxs queijos a Tarso Irmãos.
Idem
Data: 19-03-1862
O Vapor Francês Navarre vindo de Bordeaux em consiguinado
...45 cx queijos; a Kalkman Thom & C.
... 40 ditas queijos; a Tasso & Irmão.
...45 ditas queijos; a N. O. Bieber & C.
...20 ditas queijos; a M. Lethan & C.
Idem.
Data: 31-03-1862
Queijo de 281 caixas foi importação
destas 225 foram vendidas, regulando
os preços 2$200, 2$400 e 2$500 cada
queijo.
Data: 15-03-1863
. Queijos - O Tyne trouxe 60 cxs dos quais
foram vendidas, 20 a 3$ queijo com 10%
e o resto está sendo retalhado (sic).
3.1. O queijo dos Sertões
A prática de se fazer queijo é uma
forma tecnológica de enfrentar dificuldades para guardar e distribuir a matéria-prima que é o leite. Para cada quilo
de queijo fabricado precisa-se de dez
(10) litros de leite em média. Assim, o
produto final pode ser conservado durante vários dias, ou até semanas, dependendo da tecnologia usada. Esses
procedimentos, mantiveram atividades
humanas mesmo em regiões pouco favoráveis, como nas montanhas europeias que ficam cobertas de neve durante vários meses do ano.
Em Pernambuco, é provável que a
prática de se fazer o queijo de coalho
se desenvolveu pelas mesmas dificuldades de guardar e distribuir o leite para
outras regiões deficitárias. A tecnologia
inicial foi trazida pelos colonizadores
e ganhou a sua especificidade local ao
longo do tempo, passou de geração em
geração criando tradições familiares. A
princípio, essas famílias produziam o
queijo apenas para o consumo doméstico ou para presentear pessoas às quais
se devia maior consideração, sobretudo
na Semana Santa, período em que essa
prática era comum.
Os queijos de coalho trazidos dos
Sertões, não estavam na preferência dos
consumidores privilegiados dos engenhos, afeitos aos produtos importados
os quais faziam parte do status. No entanto, até chegar à mesa do consumidor,
o queijo de coalho teria uma maturação
igual ou assemelhada aos importados,
naquilo costumeiramente dito pelo sertanejo em dias atuais: o queijo matura
pelo próprio calor do Sertão. Na contemporaneidade, a produção do insumo
ganhou outras conotações. Esse queijo
passou a ser produzido para a comercialização, superando a antiga fama de um
alimento de qualidade inferior.
Nessa perspectiva, alguns produtores, juntamente com autoridades do Estado de Pernambuco ligadas à agropecuária, tiveram, desde o início do século
XX, a preocupação de cuidar melhor do
seu rebanho, tendo como objetivo produzir leite e carne de boa qualidade.
Nesse contexto o queijo de coalho
passou a ser produzido com alguns critérios de higienização e cuidados com a
saúde do animal. O produto passou a
ter melhor aceitação no mercado, saindo dos limites do interior do Estado
para ganhar as prateleiras dos mercados
e feiras da capital de Pernambuco e demais cidades do Litoral.
Com essas medidas, os produtores
de queijo de coalho passaram a aumentar a venda do queijo de coalho, e as
prefeituras municipais, como a de Leopoldina (hoje Parnamirim), passaram a
cobrar imposto sobre o chão de feira e
matança de animais.64