O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 42

40 O QUEIJO DE COALHO EM PERNAMBUCO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS força animal para transportar a cana-de-açúcar. Assim, a comercialização do gado foi se tornando notória, o que permitiu a muitos fazendeiros se constituírem grandes proprietários de gado e terras. As terras, como já foi deixado entender, eram adquiridas pela expulsão e dizimação dos índios que habitavam aquelas regiões áridas e desérticas do Sertão. Esse desbravamento de novas áreas criou o aparecimento de muitas feiras. Devido à passagem e comercialização do gado, nas áreas sertanejas de Pernambuco, teve início o surgimento dos primeiros embriões das vilas e cidades sertanejas. Das terras da Casa da Torre, partiriam, na perspectiva de grandes conquistas, os sertanistas Domingos Afonso Sertão, Domingos Jorge Velho e Matias Cardoso de Almeida34. Desse modo, começou o povoamento dos colonizadores do Sertão de Pernambuco, que seguiu a partir da penetração do rio São Francisco, com o estabelecimento dos currais de gado e fazendas de criação, no vasto interior da Capitania de Pernambuco. Os vaqueiros seguiam os afluentes da margem esquerda e, uma vez descoberta as suas nascentes, os transpunham, acompanhando seus divisores de água e alcançando os cursos dos rios da bacia do Atlântico, pelos quais desciam. A ideia da transposição do gado de suas áreas de origem à Colônia é vista como um fator de ligação geográfica entre o Norte e o Sul, além de instrumento unificador por causa do movimento dos bandeirantes e suas posteriores fixações em diversas regiões do Brasil. Segundo Viana, nessa visão historiográfica, os mesmos são apresentados como ‘desbravadores dos sertões’35, considerando os seus interesses em busca de ouro ou do aprisionamento de índios. Muitos foram os que chegaram a criação de fazendas nessas regiões, em que se situa a área de Garanhuns, como foi o caso do bandeirante Domingos Jorge Velho, cujos parentes foram também aquinhoados de porções de terras pelos domínios exercidos contra os negros afugentados dos Palmares. Na interpretação de Vianna36, o povoamento do Sertão não é somente uma simples etapa, mas uma das principais a proporcionar em seu desenvolvimento uma homogeneidade político-social e quase étnica, a partir do caboclo, e econômica pela criação de gado. Aqui, se tem o Brasil interpretado numa abordagem positivista, que em si, apenas, não corresponde a uma compreensão mais crítica dos inúmeros problemas que surgiriam nas contradições do sistema colonial. A criação de gado não fica isolada ao Sertão, mas toma lastro por outras áreas do território colonizado, especialmente pelo rio São Francisco, indo para o Sudeste e Norte de Minas Gerais, chegando à ilha de Marajó no Pará e no extremo Sul do País, formando as primeiras estâncias. A criação de gado demonstrava uma grande facilidade de instalação, com grande importância econômica, sem ter, no entanto, as imensas despesas do Litoral, com a casa grande e os imensos canaviais. Soma-se a isso o grande número de escravos e o fato da atividade não demandar mão de obra muito "Devido a passagem e comercialização do gado, nas áreas sertanejas de Pernambuco, teve início o surgimento dos primeiros embriões das vilas e cidades sertanejas."