O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 40
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O QUEIJO DE COALHO EM PERNAMBUCO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
modo de agir na perspectiva de garantir
a maior ocupação possível do espaço e
da mão de obra escrava.
Por ser a cana-de-açúcar o principal
produto da economia com o domínio
europeu da época, fazia-se necessário
eliminar qualquer obstáculo que pudesse prejudicar o seu plantio, por isto a
necessidade de levar o gado para bem
distante do Litoral.
A Coroa Portuguesa, do seu lado,
passou a expedir determinações sucessivas para a proibição da criação de gado,
e com a Carta Régia de 1701 proibiu a
criação a menos de 10 léguas da costa
litorânea.
Assim posto ao baixar o Alvará de
27 de fevereiro do ano citado fora dito
que:29
frentar dificuldade. O percurso entre o
Litoral e o Sertão ainda era desconhecido. No entanto, o acompanhamento do
gado, nos seus deslocamentos, possibilitou que novos territórios fossem assegurados na conquista do interior do Brasil.
Assim visto, na análise de Luiz Felipe de
Alencastro:30
[...] tivesse efeito não somente nas
dez léguas do Recôncavo, mas em
toda a parte onde chegasse a maré,
correndo as mesmas dez léguas da
margem dos rios pela terra a dentro
e que em nenhum dos sítios , nem
nas três capitanias de Camamu,
houvesse a inovação do gado de
criar e só lhes fosse lícito terem o de
serviço , fazendo as pessoas que o
tivessem pasto fechado, com cercas
tão fortes, que ele não pudesse sair
a fazer prejuízos às roças e lavouras vizinhas.
Evidencia-se que o trajeto do gado,
do Litoral ao Sertão, favoreceu o (re) povoamento das regiões que faziam parte
do percurso feito pelo animal. Seguindo
as determinações da Coroa Portuguesa, as boiadas seguiam o curso do Rio
São Francisco, ao desbravarem o Sertão
nordestino. Não se deixou faltar, nesse
percurso, a fome, a sede e muitos confrontos com grupos indígenas, tendo
como resultado latifúndios de criação
do animal situados com as sesmarias. Na
expansão vão encontrando áreas que
As dificuldades ampliavam-se quando o gado era de grande porte e exigiria
maior espaço. Com a intervenção régia,
percebe-se que o importante não era a
criação do gado, e sim os canaviais. Desse modo, os rebanhos passaram a en-
O repovoamento se dilata à medida que o território econômico, antes
restrito à orla dos canaviais, incorpora o ziguezague sertanejo do
gado aclimatado, originariamente
trazido de Cabo Verde.Pela prime
ra vez, os portugueses empreendiam atividades pastoris num espaço continental ultramarino . As
consequências serão decisivas.
"Não se deixou faltar, nesse percurso, a fome, a
sede e muitos confrontos com grupos indígenas"
serão bastante ocupadas por novas populações no que diz Capistrano31 em sua
obra:
No rio São Francisco, desde a
Barra do Salitre até São Romão,
descobriram-se jazidas de sal na
extensão de três graus geográficos,
que preparado com algum trabalho
provou ser excelente. Graças a estas
circunstâncias, formou-se no trajeto do gado uma população relativamente densa, tão densa como só
houve igual depois de descoberta as
minas, nas cercanias do Rio.
Ao tratarmos dos Sertões, encontramos, nas fontes regionais32, documentos
de Pernambuco com destaque para o fato
de que a atividade pecuarista que se desenvolvia, não somente nos vales do Moxotó e do Pajeú, como também em todo
Médio São Francisco, provocou a abertura de caminhos entre o Sertão produtor e
os centros consumidores, como Olinda e
Salvador, localizados em plena costa. Para
abastecer o mercado consumidor de Olinda e adjacências, os produtores buscavam
caminhos que pudessem oferecer condições de tráfego de boiadas daqueles que
permitissem encontrar água e ajudar na
recuperação do peso que haviam despendido nas longas caminhadas.