O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 36

34 O QUEIJO DE COALHO EM PERNAMBUCO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 2.2. A chegada do gado, a concessão das sesmarias, o Sertão de dentro e o Sertão de fora O gado chegado a Pernambuco provinha das ilhas do Cabo Verde (Gabriel Soares de Souza, 1587) Já no tempo inicial do primeiro governador do Brasil, Tomé de Souza, em 1549, conforme Regimento Geral19, foram tomadas medidas preliminares quando da regularização das concessões das sesmarias existentes, disciplinando-as na forma regimental e distribuindo outras terras pelo recôncavo e interior, inclusive as primeiras vastidões de terras concedidas a seu “filho de criação”, Garcia D`Ávila. Ao mesmo tempo, este se tornaria poderoso latifundiário, um dos mais prósperos criadores de gado do Brasil, com fazendas espalhadas na região que corresponderia a grandes áreas da atual região Nordeste, ocupando terras sertanejas e agrestinas, também de Pernambuco. A doação feita a Garcia D’Ávila constituía- se de quatorze léguas de terras, outorgadas pelo rei D. Sebastião. Tal doação deu origem à Casa da Torre, o mais amplo latifúndio das Américas. Naquele momento, era simbolizado, com sucesso, o empreendimento na criação do gado no Sertão, ao permitir um maior conhecimento das áreas do trajeto do gado. Isso facilitou o transporte por parte dos vaqueiros e minimizou os temores ao desconhecido. Por sua vez, Gabriel Soares de Sousa20 (1587), afirma que o gado chegado a Pernambuco provinha das ilhas de Cabo Verde, com o intuito de multiplicar o rebanho e encaminhá-lo para outras áreas. Observa-se, também, no entendimento do historiador Capistrano de Abreu, ao tratar da conquista de Sergipe, na última década do século XVI, a distribuição das sesmarias com a criação de gado. Paralelamente,”[....] ao Sertão que vai do Norte de Minas ao Maranhão e do interior de Pernambuco ao do Piauí”, observa-se que de Pernambuco, ao atravessar as serras da Borborema, Caririse Ibiapaba, ampliava-se outra série de fazendas de criação, atingindo o Piauí e o Maranhão. Desta feita “[...] havendo já ai uma clara divisão dos sertões de dentro, e os sertões de fora”.21 Entende-se que a partir do Ceará houve confluência dessas correntes baiana e pernambucana, cujo entendimento traz Antonil – Andreoni22 a falar dos mais de 500 currais da Bahia e de bem mais numerosos de Pernambuco, reforçando que esta Capitania superava a Bahia em número de animais. Gabriel Soares, nesse contexto, como senhor de engenho e escritor, via a criação de gado com certo desdém, já que essa atividade era realizada em terras não adaptáveis ao plantio de cana. Não fora longe e foi registrado que a elite baiana aceitava bem o grande sesmeiro Garcia D’Ávila. Tanto que, em 1587,