O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 30

28 O QUEIJO DE COALHO EM PERNAMBUCO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS É ainda do padre Anchieta a informação: Alguns ricos comem pão de farinha de trigo de Portugal, máxima em Portugal também lhes vem o vinho, azeite, vinagre, azeitona, queijo, conserva e outras cousas de comer. Era uma dieta, a da Bahia dos Vice-reis, com seus fidalgos e burgueses ricos vestidos sempre de seda de Gênova, e algodão da Holanda e da Inglaterra e até de tecidos de ouro importados de Paris e de Lyon. Considerando os tipos de alimentos perante as condições econômicas, Andreoni15, ao se referir tanto à cidade de Salvador, como também aos moradores Map of Brazil in the Miller Atlas of 1519 Terra Brasilis 1519 mapa por Pedro Reinel e Lopo Homem Atlas Miller do Recôncavo, percebeu que os mais ricos sustentavam-se, das carnes dos açougues e aquelas vendidas nas vilas e freguesias. Enquanto isso, os negros, que se constituíam a maioria nas cidades, iriam viver “[...]de fressuras, bofes e tripas, sangue e mais fato das reses, e que no sertão mais alto a carne e o leite é o ordinário mantimento de todos”. Haja vista a situação da colônia, era comum perceber a precariedade alimentar existente na população menos favorecida economicamente. Os mais abastados, como símbolo de riqueza e ostentação, sempre que era possível, importavam seus alimentos e vestuários dos mais diversos países da Europa. Quanto aos demais, procuravam se alimentar do que a terra lhes oferecia com qualidade ou não. Presume-se que, para esses, o queijo era um artigo de luxo, assim como a carne ainda o é para alguns. Até porque, com a predominância do gado nos Sertões, ficava difícil o acesso a determinados alimentos provenientes do gado, uma vez que esta criação se dava bem pequena na área litorânea, devido aos estragos que o animal causava aos plantadores de cana-de-açúcar. Tal situação limitava uma alimentação de qualidade proveniente do gado, uma vez que eram poucas as vacas leiteiras nos engenhos coloniais. Quase não se fabricavam neles o queijo, nem a manteiga, concluindo, dessa forma, que se ingeria a carne de boi apenas uma vez ou outra. Capistrano de Abreu16 explica que havia dificuldades de criar reses em lugares impróprios à sua propagação, reduzindo a criação de animais somente aos serviços agrícolas.