O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 30
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O QUEIJO DE COALHO EM PERNAMBUCO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
É ainda do padre Anchieta a informação: Alguns ricos comem pão de
farinha de trigo de Portugal, máxima em Portugal também lhes vem
o vinho, azeite, vinagre, azeitona,
queijo, conserva e outras cousas de
comer. Era uma dieta, a da Bahia
dos Vice-reis, com seus fidalgos e
burgueses ricos vestidos sempre de
seda de Gênova, e algodão da Holanda e da Inglaterra e até de tecidos de ouro importados de Paris e
de Lyon.
Considerando os tipos de alimentos
perante as condições econômicas, Andreoni15, ao se referir tanto à cidade de
Salvador, como também aos moradores
Map of Brazil in the Miller Atlas of 1519 Terra Brasilis 1519 mapa por Pedro Reinel e Lopo
Homem Atlas Miller
do Recôncavo, percebeu que os mais
ricos sustentavam-se, das carnes dos
açougues e aquelas vendidas nas vilas
e freguesias. Enquanto isso, os negros,
que se constituíam a maioria nas cidades, iriam viver “[...]de fressuras, bofes
e tripas, sangue e mais fato das reses, e
que no sertão mais alto a carne e o leite é
o ordinário mantimento de todos”.
Haja vista a situação da colônia, era
comum perceber a precariedade alimentar existente na população menos
favorecida economicamente. Os mais
abastados, como símbolo de riqueza e
ostentação, sempre que era possível,
importavam seus alimentos e vestuários dos mais diversos países da Europa.
Quanto aos demais, procuravam se alimentar do que a terra lhes oferecia com
qualidade ou não. Presume-se que, para
esses, o queijo era um artigo de luxo, assim como a carne ainda o é para alguns.
Até porque, com a predominância do
gado nos Sertões, ficava difícil o acesso
a determinados alimentos provenientes
do gado, uma vez que esta criação se
dava bem pequena na área litorânea,
devido aos estragos que o animal causava aos plantadores de cana-de-açúcar.
Tal situação limitava uma alimentação de qualidade proveniente do gado,
uma vez que eram poucas as vacas leiteiras nos engenhos coloniais. Quase
não se fabricavam neles o queijo, nem a
manteiga, concluindo, dessa forma, que
se ingeria a carne de boi apenas uma vez
ou outra. Capistrano de Abreu16 explica
que havia dificuldades de criar reses em
lugares impróprios à sua propagação,
reduzindo a criação de animais somente
aos serviços agrícolas.