O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 29
A PRODUÇÃO DO LEITE E DO QUEIJO SE TORNA CULTURA
ser um alimento considerado rico em
proteínas e de baixo custo financeiro.
Assim, advindas as transformações
humanas, os gostos alimentares também
foram se refinando e aprimorando, de
modo que o queijo passou a ser um alimento de muita aceitação, deixando de
ser produzido e consumido apenas por
famílias de agricultores, ao ganhar as
prateleiras dos comerciantes do gênero,
a partir do momento em que, possivelmente, ganharam outros formatos, cores e sabores. Na França, dentre os mais
variados tipos de queijos em formatos
e sabores, alguns são identificados pela
sua cor.
1.3. O queijo de coalho vai à mesa de
apreciadores
No chamado Novo Mundo, nas Capitanias da América Portuguesa, vamos
encontrar leite e carne em abundância.
Ao contribuir com essa discussão, Gândavo13, por meio da obra “Tratado da
Terra e História do Brasil”, de 1576, nos
acrescenta:
O mais gado que há nestas costas
são bois e vacas, deste há muita
abundância em todas as Capitanias, porque são as ervas muitas, e
sempre a terra está coberta de verdura, ainda que em Porto Seguro
não se querem dar nenhumas vacas senão o primeiro ano, no qual
engordam tanto que do muito viço
dizem que morrem todas.
"Os alimentos consumidos já denotavam um poder aquisitivo"
Entretanto, em épocas de seca, alimentos simples do cotidiano do sertanejo, muitas vezes faltavam. No caso da farinha chegava-se a acreditar que a falta
de chuvas tornava impróprio o plantio
da mandioca, haja vista a ausência de
outras tecnologias, durante a colonização portuguesa, no trato da terra, e as
dificuldades no campo do trabalho, visto
que era atribuído bem mais aos escravizados.
Nesse percurso, destacamos o fato
de que, desde os primórdios da história,
é possível ter uma indicação sobre a situação econômica de uma pessoa ao se
observar os alimentos que ela consome.
Com esse entendimento, no Brasil, nos
tempos coloniais, os alimentos consumidos já denotavam o poder aquisitivo
dos seus senhores, bem como em outras
regiões do mundo, cujas relações socioeconômicas foram semelhantes.
Apesar da abundância em certas
épocas, a produção alimentar não era
de tão boa qualidade, fazendo costumeiramente com que os senhores de engenho importassem do reino de Portugal
alguns alimentos, vistos como iguarias,
assim como peças de luxo, confirmadas
por Gilberto Freyre14 ao registrar:
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