O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 132
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O QUEIJO DE COALHO EM PERNAMBUCO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
como principal consumidor e indústria
do açúcar.
Antigamente, em Pernambuco, a
atividade agrícola canavieira precisava
de gado para carregar a sua produção
e para produzir carne e leite necessários
a alimentação humana, fato que incentivou a produção queijeira quase desde
o inicio da colonização. Do outro lado,
a atividade pecuarista, não combinava
com a atividade agrícola que não tolerava os estragos provocados pelo gado solto nas plantações. Consequentemente,
em 1701, a Coroa Portuguesa determinou através de uma Carta Regia a proibição de criação do gado a menos de 10
léguas da costa litorânea provocando assim a “sertanização” ou penetração dos
interiores do estado para poder criar os
animais indesejados. Na sequencia, serão ‘desbravados’ novas áreas em terras
até então temidas, penetração iniciada
em 1631 quando a invasão holandesa
provocou a fuga de proprietários buscando esconder os seus bens, incluindo
o gado, acompanhando as margens do
rio São Francisco e os rios adjacentes.
Todavia, lembramos aqui que essas novas conquistas resultarão muitas vezes
com dizimações de indígenas.
Mostramos que o Capistrano de
Abreu relata que o trajeto do gado
permitiu o surgimento de fazendas,
pequenas povoações, cidades e consequentemente o aumento populacional.
A criação do gado não ficou isolada ao
Sertão, mas posteriormente se espalhou,
seguindo inicialmente as margens do rio
São Francisco para o Sudeste e Norte
de Minas Gerais, e chegando a ilha de
Marajó no Pará, formando as primeiras
estâncias.
Por muitos historiadores, a retirada
do gado para o sertão deu aos escravos
fugidos a tão sonhada liberdade. Essa
apregoada liberdade que somente foi
possível graças ao trajeto do gado, também auxiliando que pessoas de varias etnias pudessem trabalhar em prol a mesma função. Os vaqueiros recebiam com
pagamento a quarta cria possibilitando
assim que alguns possuíssem o seu próprio criatório. De boi, tudo era aproveitado, no comercio interno leite e carne,
no comercio externo a exploração do
couro. Mas, a vida no sertão não era
fácil segundo Capistrano de Abreu. A
economia no Sertão, nos séculos XVIII
e XIX, girava em torno da criação de
gado e das poucas lavouras existentes
na região. Até o que era de obrigação da
Coroa estava sujeito ao imposto pago sobre o animal.
A pecuária se desenvolveu com a
chegada da palma forrageira no século
XIX, trazida por Herman Lundgren
e Delmiro Gouveia. Rapidamente, a
palma tornou-se a base da criação e
manutenção do gado dos criadores do
Nordeste, principalmente nos períodos
de seca. Até hoje, a palma é essencial a
manutenção da produção leiteira, e a
aparição das pragas da Cochonilha de
escama e do carmim necessitaram a intervenção de pesquisadores do Instituto
Agronômico de Pernambuco - IPA e da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa na produção de tratamento e variedades resistentes.
Mostramos que foi no século XX
que se inicia o processo de “higienização
do leite”. Com a preocupação maior do
governador do Estado, Estácio Coimbra, antes do final dos anos 1920, já
se levantava a necessidade de obter
profissionais especializados em cuidar
do gado e do leite em Pernambuco, a
fim de que tais encaminhamentos pudessem produzir leite e queijos de boa
qualidade. Tal expectativa passou a se
constituir mais forte no Agreste de Pernambuco.
Nesse contexto, o queijo de coalho
passou a ser produzido com alguns critérios de higienização e cuidados com a
saúde do animal. O produto passou a
ter maior aceitação no mercado, saindo
dos limites do interior do Estado para
ganhar as prateleiras dos mercados e
feiras da capital de Pernambuco e demais cidades do Litoral.
Grandes foram as perspectivas
abertas ao Estado quando o governador
Agamenon Magalhães inaugurou em
1938 a Usina Higienizadora do Leite
do Recife objetivando a venda do leite pasteurizado em recipientes com as
condições de higienização apropriadas.
Na medida em que emergem os
municípios pernambucanos, alguns
passam a se constituir membros da
Bacia Leiteira do Agreste de Pernambuco, região com áreas mais elevadas,
com clima mais frio, proporcionando
um melhor conforto térmico para as
vacas leiteiras. Tal região ainda possui
uma amplitude térmica e um nível de
umidade ideal para o plantio de palma forrageira que se tornou ao longo
do tempo, a alimentação base do g