O queijo de coalho em Pernambuco: histórias e memórias | Page 105
COMPROVAÇÃO DE REPUTAÇÃO DO QUEIJO DE COALHO DO AGRESTE DE PERNAMBUCO
Nome:
José Satile da Silva 97
Doralice Silva
Endereço:
Correntes- PE
Sr. José: “A mulher sabia fazer queijo, fiquei comprando leite do meu patrão
aí nós fazia um pouquinho de coalho,um
pouquinho de manteiga, foi começando, começando, deixei está com 10 anos.
Comprava o leite vendia e revendia o lucro que desse era meu. Aí eu achei que
deu certo. Eu trabalhava na roça e trabalhava com o leite, a família toda ajudava.
Ia um bocado para a roça e ficavam outros
em casa trabalhando, eram nove filhos e
tudo trabalhava”.
D.Doralice: “Aprendi com a minha
mãe e ela com a mãe dela, pra trás não
sei... Fazia só em casa, fazia de manteiga. Nesse tempo não havia para vender queijo meu avô era fazendeiro, tinha muito leite, fazia para casa mesmo,
dava ao povo,nesse tempo não tinha
venda,era fartura. Se tinha seu gadi-
nho, seu leite... Meu avô tinha fazenda,
meu pai casou tinha gado também, aí
continuou... Estou com 72 anos eu era
muito criança quando minha mãe fazia
queijo.E tudo era fartura no mundo não
é como hoje,que o povo passa muita privação nesse tempo não era”.
Sr. José: “Naquela época, era o
queijo bom não tinha qualquer [...] como
bota hoje em dia, era quadrado grosso,
era branquinho, ia ficando amarelado
com o tempo, não desnatava fazia com
toda nata”.
“Quando ficava velho ficava amarelinho que nem queijo manteiga, não
estragava.”
“Vendia toda semana, o que eu fazia vendia tudo, e quando ficava em casa
não estraga, encaixa um no outro, colocava sal, não estragava...”
“Nós comia, depois se abusou. Fazia para vender. Pesava 1 kg, 1.200kg,
1.300 kg, conforme a grossura, em formas retangular. A quantidade de sal era
tudo igual. Só quando tinha aquelas pessoas com problema, que pedia, menos
sal, já tinha freguesia tudo certa.”
COMENTÁRIO
A necessidade de conseguir aumentar sua renda familiar levou o Sr Satile
a aproveitar o conhecimento de sua esposa, adquirido através de sua vivencia
com a mãe e avó e também, aprendeu
a fazer o queijo juntamente com os filhos. Vê-se claramente a multiplicação
dos saberes ,além de empreendedorismo. A nova atividade direcionada para a
comercialização e garantindo a comple-
mentação de renda.
Nos tempos da infância de D. Doralice comprova-se o aproveitamento do
excesso de leite para produção de queijo
de consumo doméstico e ainda o excedente doado àqueles mais necessitados.
A comparação com abundancia de
leite nos tempos mais antigos e atuais,
a insistência de utilização do produto
puro sem qualquer acréscimo de outras
substancias para camuflá-lo.
Havia um padrão de tamanho, de
peso e de cor para o queijo além da
durabilidade. A produção era em sua
maioria escoada. O excedente, estocado,
recebia um tratamento de novos salgamento e acondicionamento, era consumido pela própria família embora mais
tarde viessem a enjoar devido ao consumo persistente. Apesar de que em alguns depoimentos o consumo do queijo
sempre permaneceu como dieta alimentar obrigatória não se cogitando sequer
a possibilidade de exclusão da mesma.
Mesmo com a cor alterada ( amarelada ) devido a maturação o queijo não
se estragava possibilitando o seu consumo.
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